Nos dias atuais fica difícil não falarmos dos Jogos Olímpicos… nossas madrugadas se enchem de esperança ao vermos tantas pessoas conquistando seus sonhos… Mas há tanta história e tantas histórias e é sobre isso que gostaríamos de refletir. Vamos lá!
Os jogos olímpicos têm origem há muitos anos, inicialmente como uma homenagem aos antigos deuses, na antiga Grécia. Lá somente os homens “bem-nascidos” podiam competir, todos nus, para garantir a não participação das mulheres, que se equiparavam aos estrangeiros e escravos, também alijados dos jogos. Elas, se pegas participando ou mesmo assistindo, eram condenadas a morte, sendo jogadas de um monte. Mas enquanto os jogos aconteciam, uma trégua entre povos era estabelecida – as Olimpíadas são tempos de paz!
Os jogos foram proibidos por diversos anos, por serem considerados pagãos e voltam a ocorrer em 1896, quando se realizam os primeiros jogos da era moderna em Atenas… ainda sem mulheres! Mas a trégua durante os jogos continuava e continua até hoje.
Mas seriam os Olimpíadas tempos de paz?
Olhando a transmissão dos jogos e sua repercussão na imprensa, vemos que muito mudou, mas não foi fácil… As Olimpíadas são também lugar de luta! E luta por representatividade e por inclusão!
Apesar de seu objetivo ser “a promoção da paz, união e respeito” entre os povos, afirmando que “o esporte é um direito de todas as pessoas”, durante muitos e muitos anos os jogos não foram lugar para todas as pessoas.
A primeira mulher brasileira a participar de um Olimpíada foi Maria Lenk, nadadora, em 1932, hoje somos somente 48% das pessoas participantes, apesar de sermos maioria da população mundial, e ainda existem mais modalidade masculinas que femininas.
Seriam então as Olimpíadas ainda hoje um lugar somente para algumas pessoas?
Os jogos são, a meu ver, ainda, um reflexo de nossa sociedade – repleto de preconceitos, que se mostram por meio de estereótipos, que abrem espaço para certas pessoas, excluindo outras.
Mas eles também se tornaram uma arena de luta, luta social, em função de todo alcance, que sua visibilidade e interesse, proporcionam. Questões como representatividade, em dimensões como gênero, raça, idade, orientação sexual, identidade de gênero estão presentes a cada medalha conquistada ou mesmo perdida. Objetificação do corpo feminino, acesso a patrocínio e a condições de treinamento desiguais, bem como a pressão e a saúde mental dos atletas são temas que hoje já estão em debate. E nada melhor do que nos darmos conta, do que percebermos questões para nos posicionarmos sobre elas.
Venho acompanhando os jogos e a cada situação ocorrida, defronto-me com meus vieses, esperando um “resultado habitual”, causando-me incomodo quando as “coisas não ocorrem” como o esperado. Existe japonês preto? Essa tenista, acendendo a pira, é mesmo japonesa? Como crer que é possível um homem chinês estar na final dos 100 metros rasos? Um chinês como o homem mais rápido do mundo… Esse lugar não deveria ser de um homem preto? E esse brasileiro branco achando que pode jogar tênis de mesa… isso é coisa de oriental. Um homem tricotando para relaxar… e funk como música para solo… Pode isso, Arnaldo?
Pode sim! Mas, muitas vezes, nossos vieses inconscientes, aquelas trilhas neuronais que fazem com que rapidamente interpretemos e reajamos aos acontecimentos, conhecidos ou não, nos induzem a possíveis erros, pois acabamos por nos limitar e as demais pessoais, “permitindo” a elas ocuparem ou não determinados lugares sociais.
Assim, as Olimpíadas tornam-se uma grande arena social, onde lutamos internamente, na busca de quebrarmos nossos vieses, buscando a expansão de nossa percepção individual; luta essa que, quando performada junta, impacta a sociedade como um todo, ajudando na desconstrução de estereótipos e na busca da expansão de novos lugares sociais, acessíveis a todas as pessoas.