Fecho 2022 no Blog da FourAll com reflexões oportunas e atuais a partir da letra de uma música dos Engenheiros do Hawaii que foi hit de 1988 do álbum “Ouça o que eu digo, não ouça ninguém”. Compartilho a minha leitura sobre a jornada de inclusão nas organizações, com base na minha vivência em muitos clientes ao longo deste ano. E ressalto algumas considerações sobre o elemento central de todo e qualquer movimento em direção à valorização da diversidade.
Para pessoas nascidas nas gerações Alpha ou Z, cabe apenas esclarecer que, até o começo dos anos 2000, o lançamento de uma música dependia do lançamento de uma coletânea, chamada de álbum e vendida em LPs, fitas cassete, CDs, que aos poucos foram sendo menos usados porque tínhamos que baixar as músicas para ipods e depois veio o streaming como usamos hoje. (Mas acredito que muitas pessoas nascidas há mais tempo, como eu, ainda tenham alguns destes artigos colecionáveis em casa…)
O mix entre diferentes gerações nas organizações pode ser nosso primeiro ponto de reflexão. Curioso perceber como sempre achamos que as gerações mais novas vão mudar o mundo que nós não mudamos. Com um olhar de helicóptero, que posso chamar de perspectiva ampliada, vejo que o que acontece na maioria das vezes é que contratamos o ser mais novo na intenção de ele traga novidades, mas logo o introduzimos numa cultura que repele o novo, então ou ele se molda ou é expelido. Um olhar mais atento sobre programas de aprendizagem, estágio, primeiro emprego ou trainee nos permite avaliar como essa questão vem sendo suportada em cada organização.
O nome do álbum que lançou a música musa inspiradora desse texto é também um convite à escuta ativa, proativa e inclusiva que faz a diferença quando instalada. Quando prestamos atenção ao que dizemos ou aos estímulos que nos movem, podemos escolher com ponderação e assertividade. Mas se falamos junto com todo mundo, ao mesmo tempo, desordenadamente, pode ser que não escutemos ninguém.
“Um dia me disseram
Que as nuvens não eram de algodão
Um dia me disseram
Que os ventos às vezes erram a direção”
A música dos Engenheiros do Hawaii começa com uma estrofe quase lúdica que me remete aos nossos vieses. Quando automatizamos nossas reações, tendemos a não acreditar quando outras pessoas nos apresentam ideias contrárias àquelas que tomamos como ideais e assim, muitas vezes, nos deixamos levar pelos ventos das nossas automações e erramos a direção, erramos nos julgamentos, erramos em nossas decisões.
“Um dia me disseram
Quem eram os donos da situação
Sem querer eles me deram
As chaves que abrem essa prisão”
Uma curiosidade sobre a banda: em sua formação original, foi composta por estudantes de Arquitetura da UFRGS e o nome “Engenheiros do Hawaii” vem do título de uma das músicas compostas para o primeiro show, cuja letra demonstrava seus vieses contra os alunos de Engenharia.
Aqui vale a ponderação sobre nossas origens e os papéis sociais que ocupamos. Origem é um dos eixos mais complexos da mandala das diversidades. Num país como o Brasil, com tantas diferentes culturas dispersas geograficamente, mas com os centros de poder ainda concentrados na região sudeste e com as posições de poder econômico e social ainda ocupadas por homens brancos cis e hétero, as empresas têm um papel fundamental em querer mudar o cenário da inclusão. Não é só sobre oferecer acesso aos lugares de poder. É sobre permitir acesso, valorizando a diversidade de pensamentos e perspectivas para além da diversidade que sai na foto.
“Somos quem podemos ser”
É sobre validar a premissa que todo lugar de fala importa e toda pessoa tem o seu, sobre o que vive e sobre o que estuda. E entender que assim alcançaremos o valor da diversidade, tão aclamado pelas pesquisas de consultorias globais.
Mas nem sempre podemos ser quem somos, nem sempre sabemos como ser quem somos, nem sempre sabemos quem somos. Sabemos ser? O que?
“Quem ocupa o trono tem culpa
Quem oculta o crime também
Quem duvida da vida tem culpa
Quem evita a dúvida também tem”
Todo esse debate sobre inclusão da diversidade, equidade, pluralidade, seja que nome tiver… precisa ter intencionalidade e responsabilidade. Aqui eu discordo do Humberto Gessinger, autor da letra. E sempre falamos isso nos treinamentos e palestras que fazemos pela FourAll: não é sobre a culpa (que reconhecemos ou não) mas é sobre a responsabilidade que devemos assumir ao escolher respeitar, tolerar e acolher a diversidade.
Permita-me, Humberto, reescrever assim:
Somos quem podemos ser
Somos quem queremos ser
Quem ocupa o trono é responsável
Quem ocupa o poder abre espaço
Para sermos quem podemos ser
Sonho que podemos ter!
E depois de ler minhas reflexões sobre, que tal ouvir a música?