Respeito é a base de todas as relações. Uma definição da palavra no dicionário nos levará a refletir sobre alguns aspectos centrais do conceito.
Respeito é “o sentimento que leva alguém a tratar as outras pessoas com grande atenção e profunda deferência, apreço”. Sim, quando partimos do princípio de que devemos oferecer nossa atenção àquela(s) pessoa(s) e percebemos o que elas representam para nós, a ponto de entregar mais do que nossa atenção: também nossa admiração.
Respeito é “expressão de obediência, acatamento ou submissão”. Certo, quando entendemos que existem leis que regulamentam a vida em sociedade, códigos que orientam a conduta dos grupos, políticas que direcionam ações e consequências dos nossos atos dentro de organizações.
Respeito é “o sentimento que faz com que alguém não diga ofensas nem insultos; consideração”. Certíssimo, considerando que respeitamos os limites e as pessoas, conforme entendimento dos parágrafos anteriores, respeitar é um ato, uma ação de não fazer algo que não seja digno de respeito.
E a partir deste ponto que vou compartilhar uma breve análise sobre comportamento humano e suas consequências nas relações de trabalho.
Como lidamos com as violências do dia a dia?
Uma das disciplinas da Certificação em Neurociências que eu cursei era intitulada “Como o futuro lidará com a violência?” e é daí que vem a inspiração para este artigo. Os professores apresentaram muitas teorias interessantes que me permitiram concluir que a violência é um ato reflexo de quem nos permitimos ser.
Cabe entender que toda pessoa tem uma certa propensão à agressividade e à violência. É natural, instintivo. Adrian Raine, um dos professores da disciplina, doutor em Psicologia pela Universidade de York (Inglaterra) e professor de Criminologia, Psiquiatria e Psicologia da Universidade da Pensilvânia (EUA), afirma que existem fatores genéticos que influenciam comportamentos agressivos, sob o impacto da regulação (ou desregulação, talvez) de neurotransmissores que afetam o funcionamento do cérebro, levando a comportamentos classificados como antissociais que são reforçados (ou reprimidos) pelo ambiente em que a pessoa vive. Ele nos apresenta estudos de Neurocriminologia Social, que define como “o cavalo social que puxa a carroça biológica, que leva algumas pessoas à prisão”.
O professor sugere que, para entender como e por que motivos ocorrem os crimes e a violência, é preciso correlacionar biologia, genética e meio ambiente. Mas também alerta para que os estudos e suas estatísticas não moldem protótipos que reforcem estereótipos e nos levem a discriminar todo um grupo de pessoas com características genéticas e ambientais semelhantes. Até porque ainda não são conhecidos os genes específicos que sugerem comportamentos antissociais ou violentos (se é que existem tais genes, pois as pesquisas não são conclusivas e falam em conjuntos de genes).
Então, para além da genética e do ambiente, existem outros fatores.
A estrutura cerebral é outro fator relevante. Adrian discorre sobre a anatomia do cérebro de uma pessoa antissocial com propensão ao uso da violência e prova que há uma significativa diferença na estrutura na amigdala, que é reconhecida como a reguladora das emoções. Pesquisas comprovam que quanto menor o volume da amígdala, maior é a tendência da pessoa a apresentar problemas comportamentais, com impacto no controle de seus impulsos, na expressão de empatia e até no senso de moralidade. O volume da massa cinzenta do lobo pré-frontal do cérebro de uma pessoa com transtorno de personalidade antissocial pode ser até 11% menor que a média.
E tudo isso pode ser reforçado pela genética. E ainda sofrer impacto do ambiente.
Então seguimos com fatores genéticos, ambientais e anatômicos estruturais que criam propensão à violência. Mas tem mais.
Há estudos também sobre a função cerebral e sua participação nesse contexto. Em grupos com assassinos confessos, foi identificado um certo padrão de mau funcionamento na região pré-frontal do cérebro, aquela que é responsável pela regulação das emoções, refreando o comportamento impulsivo, o que aponta um sério fator de risco para comportamentos violentos. Mas aqui não existe um consenso, pois o mau funcionamento de determinadas partes do cérebro pode ser compensado por outras, o que invalida qualquer padrão. Contudo, cabe destacar que este fator de risco não pode ser dispensado pois evidencia a relação entre a má-formação estrutural, o mau funcionamento frontal e o consequente comportamento antissocial, agressivo ou violento.
Cabe ressaltar que um comportamento antissocial, evidenciado pela falta de empatia e dificuldade de interação com outras pessoas, não é condição fundamental para comportamentos agressivos, que podem ser reativos (estimulados pelo ambiente ou outros gatilhos) ou proativos (planejados).
Todas estas explicações e ponderações me conduziram a uma reflexão oportuna sobre as nossas relações com outras pessoas nos grupos aos quais escolhemos pertencer. Estes grupos, que em geral escolhemos por afinidades, são grupos que representam e expressam nossas crenças e valores. Na maioria das vezes, as escolhas por um ou outro grupo são planejadas. Isso significa que temos afinidade com aqueles grupos. Então, o comportamento do grupo será apenas um reflexo de nosso comportamento individual.
Você já parou para se perguntar o quão conscientes são os seus comportamentos?
Se não, pare agora e pense que seus comportamentos impactam as vidas de outras pessoas.
Podemos continuar tentando explicar por que algumas pessoas são mais propensas a comportamentos agressivos, mas é preciso reafirmar que nada disso as inocenta quando seus atos ferem outras pessoas.
Assédio, discriminação, violência contra outras pessoas são atos condenáveis pela justiça, que além de ser cumprida pelos seus meios, deve ser refletida nas políticas, códigos e práticas das organizações. E já que nos associamos a estas organizações por afinidade, suas políticas, códigos e práticas devem também ser uma expressão de nossas crenças e valores, de modo que não deveria ser difícil o enquadramento. Certo, mas para que isso aconteça, precisamos ter segurança. Segurança de nos incluirmos em um ambiente onde haja respeito por todas as pessoas, o que nos inclui como pessoas respeitadas e respeitadoras. É uma via de mão dupla. Não basta querer que me respeitem como sou. É preciso que eu também respeite as outras pessoas como elas são, que eu conheça e respeite seus limites, que eu aceite suas limitações e suporte seu desenvolvimento.
A construção de um ambiente onde prevaleça a segurança psicológica como meta a ser alcançada na jornada de inclusão pretende responder a esta e outras questões de ordem psicossocial, num momento em que a sociedade começa a entender que não deve haver equilíbrio entre vida pessoal e vida profissional. O que devemos buscar é uma vida equilibrada em todos os aspectos (relações pessoais, trabalho, saúde física e mental, família, espiritualidade), com liberdade para fazermos nossas escolhas e responsabilidade sobre cada uma delas.
Ser quem se é não deve ser um peso a tolerar.
Ser quem se é não deve ser um processo de aceitação.
Ser quem se é demanda acolhimento de si mesmo.
Ser quem se é pressupõe incluir (a si e as outras pessoas).
Onde você se vê na escala da inclusão?
Importante reiterar: respeito é a base desta escala, não é uma marca apenas.
Referências
https://www.dicio.com.br/respeito/