Os desafios e a riqueza da equidade

Os legisladores sabem bem que as leis são quase estáticas. Elas representam uma forma de se buscar estabelecer justiça num determinado momento da história da nossa sociedade.

Neste sentido, a aceleração das mudanças com as quais convivemos tende a tornar as leis defasadas rapidamente.

Entretanto, fazer com que os legisladores adequem a cada momento as leis existentes, exigiria um redesenho constante, quase insano. A equidade surge como um caminho alternativo, que mantendo as bases jurídicas, permite com que se obtenha o senso do justo em um grau mais satisfatório, numa tentativa de manter viva a noção do Direito e da Justiça em nossa sociedade.

Não sem razão, se diz que as leis são imperfeitas, e a equidade é uma trilha que dá chance ao legislador de tamponar falhas e brechas da lei, não previstas originalmente, de modo a garantir a sua aplicabilidade equilibrada, ainda que tenha uma interpretação privada.

Neste ponto, alguns cuidados na aplicação da equidade devem estar presentes, para que no afã de buscar sanar uma lacuna, não se percam os critérios de impessoalidade e não fujam dos conceitos e fundamentos existentes na própria lei.
Transportando esta visão para o âmbito corporativo, assistimos igualmente a mudanças graduais dentro das organizações, para dar conta aos novos anseios da nossa sociedade.

Tanto quanto os legisladores de nosso país, as empresas estão passando por um repensar de suas normas e regimentos internos, sem perder de vista a coerência com seus valores e com as legislações vigentes no país.

Interessante notar, que este processo de mudança nas organizações tem sido impulsionado, em boa parte dos casos, por movimentos participativos de construção conjunta, onde grupos são formados com o objetivo de discutir pontos e lacunas das atuais formas de ser e de conviver das pessoas, revisitando comportamentos, avaliando posturas, muitas vezes inconscientes, mas que podem ser promotoras de injustiças.

Para as pessoas colaboradoras, muito mais relevantes do que as normas são as práticas, que em alguns momentos podem caminhar em trilhas descasadas, ficando estampadas incoerências e correndo o risco de ficar no vazio os discursos defensores da meritocracia.

Um papel muito sensível neste processo é o das lideranças, que frente às rotinas pesadas exigidas pela própria organização, precisam ter o equilíbrio de manter coerentes suas ações, discursos e julgamentos, dentro daquilo que é normatizado interna e externamente, mas tendo um olhar individualizado de cada caso, de cada situação, e ajustando suas ponderações com equidade.

Para garantir que tanto as mudanças propostas pelos grupos de afinidade, como as ações das pessoas colaboradoras e líderes da organização se mantenham dentro de um equilíbrio e ordem esperados, é oportuno não nos esquecermos do papel exercido pela área de governança interna, que dentro deste emaranhado precisa garantir um andar uníssono na diversidade.

Dada a complexidade, muitas empresas não abrem mão de um apoio consultivo externo, para poderem dar conta das mudanças, para que estas se mantenham estruturadas e ocorram de forma continuada e consistente.

Vivemos um momento desafiador, onde as vozes se ampliam e exigem a instalação de uma nova cultura, mais abrangente e inclusiva, que precisa ser rediscutida e revisitada continuamente.

É um momento rico e novo, com novas oportunidades para as pessoas, para as organizações e para a sociedade como um todo.