O que não sai na foto

Quando você pensa em diversidade, o que vem à sua mente?

Talvez você pense em diferentes tons de pele ou deficiências, diferentes gerações, origens – naturalidade, formação acadêmica, privilégios – ou ainda diferentes formas de expressar amor e afeto conjugal, diferentes religiões – que podem impactar em diferentes formas de se vestir ou mesmo sugerir diferentes comportamentos.

Agora pense o quanto destas diversidades sai na foto.

Explorando a Mandala das Diversidades, composta por Raças ou cores de pele, Gerações, Gêneros, Deficiências, Religiões e Origens, percebemos que há muitas diferenças entre todas as pessoas, o que nos torna seres únicos, singulares e, ao mesmo tempo, plurais. Será que a nossa pluralidade pode ser expressa em uma foto? Pense comigo:

  • A cor de pele sai na foto. Como eu vivencio o privilégio ou o peso da minha cor de pele, não.
  • A minha idade pode aparecer na foto, mas a minha formação acadêmica e profissional, não, a não ser quando eu estiver vestida com o uniforme da minha profissão, se houver um.
  • O meu sexo que sai na foto é o que eu mostro socialmente. Não necessariamente meu sexo biológico nem tampouco minha orientação sexual.
  • A minha deficiência física pode ou não sair na foto. Imagine uma foto em que todas as pessoas estejam sentadas. Você poderia reconhecer a pessoa cadeirante? Nem sempre.
  • A minha religião vai aparecer na foto quando houver adereços associados a ela que eu escolha usar: um crucifixo, um escapulário, um quipá, uma guia, um amuleto.

Dentre tantas outras provocações que eu poderia fazer, com o objetivo único de refletir sobre o valor da diversidade, retomo a questão: podemos julgar que há ou não diversidade numa foto?

Primeiramente, cabe afirmar que a foto é importante, sim, porque possibilita que pessoas se percebam representadas nela, ou não. Representatividade é um fator a ser considerado para garantir atração e gerar pertencimento. Mas não é tudo. E é exatamente sobre o que não pode ser representado numa foto que escolhi falar.

O que não sai na foto é a essência do que faz a diversidade ser uma alavanca para melhores resultados, inovação e engajamento: pensamentos diferentes ou diversidade cognitiva. Em resumo: o x da questão na foto em que não vemos diversidade não está nas figuras tão iguais a ponto de parecerem uniformizadas, mas, sim, na provável constatação de que essas figuras pensam igual também, o que configura um risco para organizações que precisam sobreviver a este mundo frágil, ansioso, não-linear e incompreensível (FANI).

“A diversidade supera a capacidade”. É o que afirma Scott E. Page, autor dos livros The difference e The Diversity Bonus, onde alerta sobre o quanto o pensamento de grupo pode conduzir as pessoas por um mesmo caminho, sempre chegando a conclusões parecidas. A Psicologia Social nos ensina que, como seres gregários que somos, tendemos a seguir as normas do grupo a que pertencemos. E isso impacta em pensamentos e crenças que enviesam nossos comportamentos. Tudo porque buscamos pertencimento. Mas cabe ressaltar que o valor da diversidade está na troca de experiências e conhecimentos, bem como no alargamento de perspectivas que diferentes pontos de vista podem alcançar juntos, quando as pessoas podem ser quem elas são e expor seus pensamentos diferentes sem medo de retaliações.

Por isso é importante refletir sobre como ainda mascaramos nossas identidades e moldamos nosso comportamento para pertencer aos diferentes grupos em que convivemos. Aqui cabe mais uma provocação: pertencer e se sentir incluído/a é a mesma coisa? Como tirar a máscara?

Brené Brown, estudiosa de temas como vulnerabilidade e vergonha, me ajuda a finalizar estas reflexões com algumas inspirações que colhi do livro “A coragem para liderar”, onde ela conclui que viver de acordo com nossos valores é a chave para sermos melhores líderes e melhores pessoas, consequentemente:

  1. Identifique e nomeie seus valores – importante que saibamos expressar nossos valores, assim como nossas emoções e sentimentos a partir dos estímulos que recebemos no dia a dia, enquanto nos relacionamentos com outras pessoas, lembrando que valores são princípios ou padrões de comportamento que expressam o que julgamos que é importante para nós;
  2. Traduza seus valores em comportamentos – é sobre perceber o que devemos fazer para que nossos comportamentos reflitam nossos valores, sabendo dizer não ao que nos afastar deles, respeitando nossa identidade e tomando consciência de nosso lugar de privilégio;
  3. Aplique empatia e compaixão nas suas relações – quando nos permitimos ser quem somos, damos espaço para que outras pessoas sejam quem são. E quando nos movimentamos na direção de outras pessoas, estabelecendo relações empáticas de respeito e acolhimento, permitimos que os atritos causados pelas diferenças gerem bons resultados.

Como reflexão final, sugiro que você revisite as fotos que puder julgar e se pergunte onde está a diversidade em cada uma delas. Se pudermos concluir que a diversidade cognitiva, que não aparece na foto, tem um peso incalculável nessa equação, então entenderemos que o valor da diversidade está em permitir que grupos sejam formados por pessoas diferentes que possam se expressar e construir coletivamente usando as diferentes ferramentas ou recursos que trazem em sua bagagem – individual, única e plural – em prol do coletivo.