Como uma liderança inclusiva impediu o sequestro da especialista

As amígdalas são renomadas especialistas em emoções, responsáveis pelo depósito das memórias e dos significados dados a elas. Elas também participam ativamente do processo de aprendizagem dos seres humanos. Contudo, as amígdalas fazem parte de uma estrutura considerada primitiva em nosso cérebro. E, mesmo com tanta responsabilidade, podem ficar sobrecarregadas de emoções descontroladas. É quando dizemos que ocorre um sequestro emocional: aquele momento em que nos deixamos levar pelas emoções e perdemos controle racional sobre nossas ações. Mas é claro que eu estou escrevendo isso aqui na primeira pessoa do plural apenas de forma didática… porque isso não acontece comigo, nem com você. Apenas com pessoas descontroladas… ou será que não?

Tomar consciência de seus pontos sensíveis, do que te incomoda no comportamento das outras pessoas ou no espelho do seu próprio comportamento, do que te causa medo ao perceber algo fora do padrão que considera seguro ou de quem você considera uma ameaça por ser diferente de você, é o primeiro passo para controlar melhor suas emoções e saber lidar e liderar pessoas diferentes de você. Ah, sim… você já percebeu que toda pessoa é diferente de você? Ou que você é um ser singular? Independentemente de quem você é, seja qual for a sua posição na empresa em que você trabalha, ou tenha você o papel que você quiser desempenhar, uma coisa eu garanto: você é responsável por suportar as outras pessoas no desenvolvimento da inteligência emocional delas.

Esta é uma das responsabilidades da liderança e podemos afirmar que encontramos uma liderança inclusiva quando esse cuidado acontece naturalmente, respeitando as diferentes perspectivas, buscando somar e atentando para as oportunidades de apoiar outras pessoas em suas lacunas de desenvolvimento emocional.

As pessoas tendem a ver os erros de outras pessoas antes dos seus e buscam fora de si mesmas as respostas para seus próprios erros. É assim que os erros e os eventuais conflitos, muitas vezes decorrentes deles, sempre têm um mesmo responsável: o outro.

[Pausa dramática: você já parou para pensar que você é “o outro” para outras pessoas?]

Se você quer exercer uma liderança inclusiva, deve cuidar de si, buscando aprender como controlar as suas emoções, desenvolver a sua inteligência emocional e lidar com “o outro” que existe dentro de você. Porque é papel de uma liderança inclusiva ajudar as pessoas a assumirem responsabilidades por suas ações, por seus comportamentos e pelo que os motiva a agir. Como costumo afirmar em treinamentos e palestras: “aceitar a si mesmo é o primeiro passo para acolher o que as outras pessoas podem te trazer”.

Algumas perguntas que você pode se fazer e depois fazer às pessoas com quem trabalha, para ajudar na reflexão e na mudança de atitude:

  • Se existe algum incômodo na relação entre duas ou mais pessoas na equipe, defina o que exatamente te incomoda: que situação ou experiência impacta seu relacionamento?
  • Que diferença o comportamento da outra pessoa tem na sua vida?
  • De 0 a 10, que importância você dá a esta situação ou experiência?
  • Que sentimentos foram evocados ao vivenciar esta situação ou experiência?
  • Que comportamentos você teve ao sentir o que sentiu?
  • Como você avalia esta sua reação?

Ajudar as pessoas a se sentirem seguras para refletirem e tornarem explícitos seus sentimentos é um passo importante para libertá-las das amarras do julgamento. Uma liderança inclusiva perceberá que, ao permitir que as pessoas fiquem à vontade no grupo, estarão também mais à vontade consigo mesmas e, provavelmente, colherá frutos em relação ao engajamento, colaboração e confiança. Mas é importante destacar que este é um processo gradual e que vai tomar o tempo de cada pessoa… Não tem receita de bolo!

Outro passo importante que cabe a liderança inclusiva orientar vai mais uma vez em direção ao autoconhecimento: além de pensar em que comportamentos de outras pessoas nos incomodam, devemos pensar quais comportamentos nossos podem estar incomodando as outras pessoas. É importante nomear este processo, entender as emoções que ele desperta e aprender a lidar com elas.

Mas e quando nada disso dá certo e a amígdala é sequestrada em plena atividade de trabalho em equipe? Uma liderança inclusiva saberá que somos seres humanos, sujeitos a falhas e avessos a mudanças por natureza. E poderá ajudar o grupo a lidar com o desconforto causado pela mudança, a desenvolver tolerância e resiliência e a julgar menos, indo além de suas perspectivas engessadas para perceber valor em outros pontos de vista. Porque diversidade é tudo o que é diferente de mim e eu sou diversidade para outras pessoas. Porque o valor da diversidade está em podermos trabalhar juntos trazendo nossas diferenças para a construção coletiva, moldando as ideias com diferentes formas. E porque na empresa, ou na vida em família ou na sociedade como um todo, cada pessoa tem responsabilidade sobre a arquitetura social do ambiente que a cerca.  É assim que uma liderança inclusiva impede o sequestro da especialista amígdala e dá voz à inteligência que vem das emoções.

Fonte: Inteligência Emocional da Gestão de Resultados, de Lee Gardenswartz, Jorge Cherbosque e Anita Rowe