Esta pandemia teve menos impacto graças aos avanços na tecnologia, o que permitiu aproximar as pessoas através de plataformas online de vídeo conferências, dentre outras ferramentas virtuais. As empresas tiveram que se reinventar em pouco tempo, mas somente conseguiram isso porque tinham um mundo digital e virtual a sua disposição.
O “novo normal” veio pra ficar e tende a virtualizar as atividades, tarefas, projetos e relações.
Mas como a tecnologia não tem o calor humano, ainda sentimos falta dos afagos nos momentos de tensão, da escuta atenta daqueles que estão querendo também contribuir e participar de uma nova construção.
Isso é papel dos líderes que especialmente neste momento têm que reaprender a interagir de forma ainda mais efetiva com as equipes, entendendo as dificuldades de cada um e trazendo todos para a mesma direção com entusiasmo, mesmo à distância e com limitações e distrações das mais diversas. Quem imaginava que aquele coordenador financeiro acolhia filhotes abandonados em casa? Quem sabia que a diretora tinha filhos gêmeos em idade de alfabetização? Ou que a analista adora orquídeas e tem um jardim de parede feito por ela na sala? Essas singularidades foram expostas quando todas essas pessoas precisaram trabalhar de casa e aí, durante a reunião online, os filhotinhos latem loucamente, as crianças demandam atenção com o dever de casa e o jardim de orquídeas chama a atenção quando a analista se apresenta.
Uma vez expostas as singularidades, que podem até ser vistas como vulnerabilidades, não é possível ignorá-las como antes. A pessoa que exerce a liderança precisa estar atenta à produtividade e às emoções daqueles que lidera.
Neste momento, é possível que alguns fiquem mais ausentes, por dificuldades, medos normais em mudanças rápidas. A crise traz também pontos imponderáveis, como o risco da contração de um vírus ainda desconhecido, dos impactos na vida pessoal e familiar de cada um, o fantasma de uma perda de um emprego, que somam negativamente no psicológico de cada pessoa.
Lidar com esta situação exige muito equilíbrio e sensibilidade para ouvir, desvelar eventuais dificuldades ocultas, dar o apoio necessário para garantir o motivacional dos times.
O mundo digital traz a oportunidade de aproximar pessoas de todos os cantos do mundo, de diferentes origens, diversos perfis. À distância, a rede de relacionamentos pode crescer e muitas vezes a figura do outro lado não terá uma imagem sequer que me permita associar à pessoa um viés de confirmação em relação a sua competência. Mas o “novo normal” prevê que eu devo confiar nessa pessoa, na entrega que ela me promete. A liderança pode e deve ajudar muito nesse processo. Mas está igualmente sujeita às mesmas percepções. E eis que ouvimos uma mensagem “padrão” que vem da área que orienta a Gestão de Pessoas. Sim, RH não é sobre fazer gestão de pessoas. Isso cabe a todos e todas que exercem posições de liderança ou se colocam nesse papel. RH é sobre orientar a gestão de pessoas consciente e alinhada ao propósito de cada empresa.
Um dos grandes desafios do RH e das empresas como um todo é ter a capacidade de mudar o código mental rapidamente, se ajustando ao novo contexto, para possibilitar uma virada sempre que necessário.
E para isso não basta tecnologia. É preciso garantir que o lado humano seja sempre preservado. Ser humano ou humana, tomando o conceito do adjetivo, é ser capaz de exercer a indulgência e a compreensão para com outras pessoas.
O futurista e autor de “The Future of Jobs” Jacob Morgan disse que “em um mundo movido pela tecnologia, SER HUMANO nunca foi tão importante.” Se acreditarmos que podemos ser melhores a cada dia, que usaremos todos os recursos a nossa disposição para conectar nossas ideias e ideais com esta finalidade, então seremos, sim, mais humanos e mais humanas mesmo neste mundo virtualizado e cercado por máquinas e algoritmos que nos ajudarão, segundo a nossa vontade, a construir um mundo melhor. Aí encontraremos o coração das empresas: onde estiver o coração de cada um de nós.
por Leonardo Carvalho e Sylvia Terra