Só sei que nada sei

A frase é de Sócrates mas a inspiração vem da Regra n° 9 do livro “12 regras para a vida: um antídoto para o caos”, do professor de Harvard Jordan Peterson: “Presuma que a pessoa com quem está conversando possa saber algo que você não sabe”. Ainda sem ler o conteúdo das 23 páginas deste capítulo, reflito sobre esse título e penso em humildade (para assumir que não sei tudo e começar uma conversa desarmada), escuta ativa (um exercício constante para quem tem ideias pré-concebidas). Penso também em inclusão (de outros pontos de vista e perspectivas que essa outra pessoa tem e pode compartilhar, mesmo que o conhecimento dela seja o mesmo que o meu).

Assumir que não sabemos tudo é o primeiro passo para que possamos nos dispor a ouvir outras pessoas em busca de novas perspectivas. E isso pode nos levar à oportunidade de incluir mais pessoas nesse contexto, pessoas com diferentes ideias e necessidades. Entendo que a inclusão começa pela escuta, pela empatia, pela percepção sobre a outra pessoa e suas demandas e experiências. Se eu não calço aqueles sapatos, não saberei se são confortáveis ou não. E um mesmo sapato pode me calçar muito bem e machucar o pé de outra pessoa, mesmo que ela calce o mesmo número que eu. 

Então algumas frases me prendem a atenção no texto. A primeira é sobre o pensamento.

“Pensar é escutar a si mesmo. (…) O pensamento é um diálogo interno entre dois ou mais pontos de vista diferentes sobre o mundo.”

Parece tão simples. Pensar é um exercício de conversa interior, entre mim e mim mesma, que dura o tempo necessário para que eu chegue a uma conclusão e defina um ponto de vista que eu possa chamar de meu. Esse meu ponto de vista é influenciado pela minha história, pelas minhas referências, experiências e condições em que vivo e vejo a vida. Meu pé e meu sapato. Tudo tão único e exclusivo quanto eu. E já exercitei minha argumentação comigo mesma para chegar nessa ideia, então me apego a ela facilmente.  Posso até compartilhar a minha ideia, especialmente se for relevante perceber que outras pessoas podem ter vivenciado a mesma “conversa interior” e alcançado a mesma percepção que eu. Isso confirma que estou certa. E se eu estou certa, alguém deve estar errado.  

Então destaco a outra passagem que vem complementar e quase confrontar o trecho anteriormente marcado.

“Ouvir é prestar atenção. É impressionante o que as pessoas lhe dizem quando você está disposto a ouvir”

Depois da conversa interior que tive comigo mesma, para formar meu pensamento, se segue uma conversa exterior com outra pessoa. Mas aí o exercício é outro: ouvir. Preciso ser capaz de ouvir essa outra pessoa, conhecer o ponto de vista dela e dialogar com ela a respeito da ideia que compartilhamos. Jordan Peterson afirma que se eu estiver disposta a entrar no mundo interior da outra pessoa e ver as coisas à maneira dela, posso até mudar o meu ponto de vista. Opa! Será que eu quero? Parece arriscado. Mas, como bom psicólogo, Peterson me faz ver que prestar atenção aos argumentos da outra pessoa pode me fazer aprender com ela e com o processo, ampliando meu campo de visão e análise. Posso até mesmo encontrar nos argumentos dela um reforço para o meu ponto de vista. Mas para que isso aconteça, preciso ser imparcial na minha escuta, preciso bloquear meu julgamento.

Não julgar é outro exercício muito importante. Impacta diretamente em respeitar a visão da outra pessoa e aceitar que ela pense diferente. E tudo bem. Para escutar ativamente, é preciso ouvir sem a barreira do julgamento. Quando eu coloco o meu pensamento como filtro para o que você fala, eu não escuto a sua necessidade.

“Uma pessoa que escute pode refletir a voz da multidão.”

E a reflexão se volta para o conceito de inclusão: integrar, incorporar, compreender, respeitar as diferenças e tratá-las como fator de aprendizagem coletiva. Como diria Verna Meyers, incluir é chamar para dançar quando a pessoa já está na festa. E eu complementaria, depois de ler Peterson: chamar para dançar, ensinar os passos, aprender os passos que a outra pessoa sabe e/ou simplesmente dançar junto do jeito que cada um puder, curtindo a música. 

Ao final das 23 páginas que me fizeram pensar e ir muito além delas, como um bom livro faz, ratifico a mensagem principal e percebo que o primeiro passo é ouvir a si mesmo para ser capaz de ouvir a outra pessoa com a atenção que a conversa merece. A busca contínua por conhecimento é a essência da sabedoria. Ou, como Sócrates já sabia: assumir que não sabemos tudo é primordial. 

Que possamos sempre presumir que a pessoa com quem conversamos, seja quem for, sabe algo que não sabemos. Dispostos a aprender, saberemos cada vez mais.