“Quando conhecemos pessoas que pensam diferente de nós, …, devemos ver oportunidade e possibilidade. Devemos reconhecer que um ”eu” talentoso e um “eles” talentoso podem se tornar ainda mais “Nós” talentosos. Essa feliz visão não se baseia em otimismo cego ou mantras cativantes. Está baseado na lógica. Uma lógica de diversidade. ” Scott Page
Vivemos em um momento bastante atípico – seria uma crise sem oportunidades? Em um mundo onde acumulamos mais de 3 milhões mortes, quem não perdeu nada, não está entendendo nada!
Muitas pessoas perderam familiares e colegas, outras perderam empregos, muitas perderam até a esperança… mas mesmo aquelas que não diretamente perderam alguém ou algo estão imersas em um mundo cada dia mais BANI – Brittle, Anxious, Nonlinear e Incomprehensible, ou, em português: Frágil, Ansioso, Não linear e Incompreensível; o que nos faz perder nossa segurança e o torna o mundo ainda mais complexo.
Não sairemos as mesmas pessoas que entramos – cada um com a sua vivência, a qual influenciará de modo singular as nossas percepções e visões de mundo. E o que de potência nos traz isso?
Todas as nossas experiências e vivências e a forma com a que as interpretamos e agimos a partir delas nos tornam pessoas diversas cognitivamente, isto é, pessoas diferentes possuem diversos sistemas cognitivos, composto a partir de diversas fontes de experiência, educação, temperamento, inteligência, etnia, gênero e idade.
Toda essa diversidade se torna potência em qualquer ambiente onde seres humanos estão presentes e são capazes de divergir. Autores como Scott Page afirmam, por meio de seus estudos, que a diversidade cognitiva nos ajuda na predição e na solução de problemas complexos, além da inovação e da tomada de decisão. Sendo assim, existiria alguma coisa mais importante, no cenário atual, do que ter ambientes diversos e inclusivos, onde cada uma possa contribuir por meio de sua diversidade cognitiva?
E como potencializar toda essa diversidade? Para que este ambiente possa se instituir, precisa haver uma cultura organizacional, híbrida de culturas, mas com clareza nos objetivos, estratégias e políticas – essa cultura organizacional instituída estabelece valores para as pessoas envolvidas, ela atuará como um lócus propício a coexistência respeitosa e acolhedora da diferença, propiciando, acolhendo e gerenciando todo o conflito de ideias que possam vir a surgir, pois serão estes que concederão a empresa sua capacidade de antever e responder aos problemas e demandas.
Para que a diversidade cognitiva seja bem-sucedida, a organização precisa tornar o ambiente “seguro” para as pessoas colaboradoras experimentarem coisas novas de novas maneiras, sem medo de repercussões negativas e acreditando na valorização dos seus saberes e experiências, como também fomentar a complementação de saberes e aperfeiçoamento de competências, como as relativas a comunicação, negociação, coordenação de equipes multiculturais e multidisciplinares, seja por meio de ações de atração e desenvolvimento.
Segundo Page, a diversidade de pontos de vista é da maior importância para resolver os problemas que enfrentamos individualmente e coletivamente, sendo a diversidade entre um grupo de solucionadores de problemas é mais importante do que a excelência individual, ficando claro que a segurança em poder se expor e contribuir deve ir além de uma confiança pessoa a pessoa, mas deve se dar no âmbito do ambiente e preconizada por todas as pessoas e, em especial, pelas lideranças com exemplo de comportamento e de práticas e estruturas da organização que facilitem esse ambiente. O autor reforça que o resultado entregue pela diversidade é maior e melhor do que o entregue pela soma das entregas individuais, ressaltando a importância do ambiente inclusivo e seguro.
Em acordo com o autor, não estamos aqui desmerecendo a relevância da representatividade, que se apresenta por meio de características identitárias, de forma individual e mesmo coletiva, dentro das organizações, mas sim ressaltando que esta diversidade identitária deve ser acolhida, respeitada e valorizada, dando lugar de fala a toda a diversidade cognitiva provenientes dos locais sociais que estas pessoas podem ocupar em nossa sociedade, se traduzindo por suas vivências e experiências adquiridas.