Nós não estamos compartilhando uma cultura global. Em vez disso, estamos aprendendo a cultura do compartilhamento de nossa diversidade global.
Castells, Manuel. O poder da identidade . Paz e Terra. (2019)
Hoje assistimos a um movimento que estamos aprendendo a lidar, e no qual fomos todos envolvidos, ainda que por vezes, involuntariamente: a sociedade em rede.
Novas vozes começaram a ecoar aos quatro cantos do mundo, criando uma quarta dimensão, um espaço à parte, desconectado do mundo físico, mas também incrivelmente presente no nosso dia a dia.
As redes sociais deram voz a todos, a todos aqueles que quiserem delas se servir, para externar seus pensamentos. Consequentemente, nós nos aproximamos virtualmente, formando novos laços, novos grupos, novas comunidades, destruindo as fronteiras tradicionais.
Neste novo ambiente, novos movimentos sociais e jogos de poder, próprios de qualquer sociedade, se desenvolvem.
Segundo Castells, na dinâmica social é a partir da formação e da afirmação da identidade que as mudanças sociais ocorrem. E na sociedade em rede presenciamos a afirmação de diversas identidades, interferindo diretamente em diversos aspectos geopolíticos atuais, e na sociedade como um todo.
As identidades aqui se referem não a de um indivíduo, mas sim a grupos de indivíduos que se conectam e compartilham de mesmos valores, crenças, princípios, ideias e culturas.
Verdadeiras tribos virtuais batem tambores, soltam fumaça, e ensaiam gritos de guerra, colocando seus pensamentos e se posicionando. Apesar de todo o avanço tecnológico, guardamos em nossa essência um genuíno espírito tribalista.
Pessoas criam conexões que favorecem a troca de ideias
Contrariamente ao que se imaginava, o mundo globalizado não se tornou plano, uniforme, onde algumas ideias tenderiam a predominar. Observa-se justamente o oposto. A vibração de posicionamentos, a veemência de argumentações e contra-argumentações, com debates e múltiplos pensamentos. O que percebemos são interações, trocas de ideias, de um lado e de outro, se tornando um espaço aberto a discussões e falas.
Neste processo plural, percebe-se o aparecimento de novos atores capazes de canalizar pensamentos, construindo novas identidades com um propósito transformador da sociedade, fazendo frente ao pensamento comum, com o objetivo de buscar transformar a estrutura social constituída, questionando desde o modelo econômico vigente até a questões de ordem social, como o patriarcalismo.
Esta dinâmica virtual tem nos instigado, nos provocado e nos deixado perplexos, não somente por ser um ambiente novo e pouco explorado, mas pela nossa dificuldade de conseguir mensurar seu potencial e de saber conviver com este modelo de sociedade.
Mas um ponto tem ficado claro: que ao invés de uma uniformidade de pensamentos, verificamos que a pluralidade de ideias é o que tem prevalecido, e que tudo leva a crer, que deve se manter como uma tendência, coerente com nossa essência.
Afinal somos seres sociais e diversos.
Referências:
Castells, Manuel. O poder da identidade . Editora Paz e Terra, 2010.