A arte da camuflagem

Abandone a pessoa que você acha que deve ser e seja você mesmo.

Brené Brown usa esta frase como subtítulo do livro “A arte da imperfeição”, em que explora os conceitos de coragem, compaixão, conexão, pertencimento e autenticidade, além de vergonha, medo e vulnerabilidade – temas centrais de todo o seu estudo. Em um trecho do livro, ela conta uma situação que viveu para ilustrar o impacto de vivermos como camaleões, camuflando mais do que a nossa aparência, os nossos comportamentos, conforme o ambiente que frequentamos.

Convidada a palestrar para um grupo de mulheres durante um almoço festivo, a responsável pelo evento pediu que ela não citasse a palavra vergonha e mantivesse toda a sua fala centrada em como ser mais alegre e ter um propósito, de forma leve e descontraída. Ora, se o objeto de seus estudos era a vergonha e outras coisas que atrapalham a alegria, o sentido e as conexões, para ela seria difícil não mencionar os protagonistas de suas pesquisas. Mas ela acabou vítima da situação e tentou se camuflar. Tentou mostrar o que ela (sabia que) não era. Tentou falar a partir de um lugar que não conhecia. E falhou. Ao menos para ela mesma.

Será que somos capazes de reconhecer, como ela, os momentos em que falhamos nas nossas tentativas de camuflagem? Será que nos dispomos a analisar os ambientes que frequentamos e como nos vestimos ou despimos; se usamos máscaras ou véus e o quanto estas vestes nos protegem ou escondem…? E por quê? Ah… o porquê…

Uma das possíveis respostas está na nossa necessidade de aceitação. Nossa vontade de pertencer está diretamente relacionada ao esforço de adaptação ou adequação a uma outra realidade. Será…? A outra possível resposta está nos padrões. Brené fala que nossa mente é programada para buscar padrões e atribuir significados a esses padrões. Sim, eles são importantes. Mas assim como os padrões têm valor porque nós damos valor a eles e podem ser reprogramados desde que sejamos motivados a fazê-lo, também vale pensar que quanto mais tivermos que nos adaptar para pertencer a um determinado grupo, menor será a sensação de pertencimento. Ou, nas palavras de Brené: “o grande desafio, para a maioria de nós, é acreditar que temos valor agora”. Isso mesmo: agora, a qualquer momento, sempre. E ocorre que, na maioria das vezes, optamos por reivindicar um lugar que não é nosso ao invés de valorizar o nosso lugar.

Pode ser por vergonha ou medo, mas expor a nossa vulnerabilidade não costuma estar entre as opções. Porque as outras pessoas julgam. E não queremos ser julgados. Mas experimente falar isso de frente para um espelho. Você e eu somos as outras pessoas.

Jung se refere à vergonha como o “pântano da alma” e Brené sugere que devemos atravessar esse pântano, com ou sem medo. Viver a vergonha é colocar sua vulnerabilidade à mostra e provar a força do amor-próprio. Sim, ela também fala de amor neste livro inspirador. Daquele amor que devemos sentir por nós mesmos e que nos fortalece como seres humanos para amarmos outras pessoas e nos apresentarmos para elas como somos, certos de que seremos respeitados e valorizados de qualquer forma.

O convite que faço a você é que RIA* a partir desta leitura.

///

Reflexão

Inspiração

Ação

\\\

Reflita sobre o quanto os padrões que você valoriza podem estar com um peso maior do que o seu bem-estar, o seu valor. E como isso pode estar impactando sua relação com pessoas diferentes de você.

Inspire-se nesta reflexão para avaliar seu comportamento e encontrar pontos de mudança necessários para que você seja capaz de fomentar um ambiente seguro e confortável para você mesmo e as pessoas ao seu redor.

Por fim, aja! Mexa-se! Faça acontecer! Defina por onde começar a mudar o que tiver que mudar. Então comece.

O coração está na raiz da palavra coragem – cor – e é por isso que desejo, de coração, que em 2021 você tenha coragem de ser quem você é todos os dias, em qualquer lugar! Sem camuflagem, mas ainda de máscara (somente contra a Covid-19 e enquanto for necessário).

Em tempo: RIA também está no livro A Arte da Imperfeição. Vale a leitura.

Por Sylvia Terra