Nossa boia de salvação são os outros

Os tempos são líquidos porque, assim como a água, tudo muda muito rapidamente. Na sociedade contemporânea, nada é feito para durar.” Zygmunt Bauman

É um pouco perturbador não saber o que será o amanhã. Perturbador no sentido mais amplo do termo. É como nós estivéssemos numa montanha russa, que sabemos que as curvas e descidas bruscas vão surgir em algum momento a nossa frente, mas a sensação de friozinho na barriga, quando as mudanças repentinas chegam, dá um gostinho de quero mais.

Não podemos mais prever com exatidão como será o futuro, qual será o desenho dos trilhos de nosso parque de diversões.

Ter emoções o tempo todo é bom, mas também em alguns momentos precisamos de algum porto seguro, já que sacolejos de mais podem causar enjoos.

Um vídeo de um comediante português está circulando nas redes de Whatsapp, falando que estamos no meio de começo do fim, e já se começa a se enxergar uma luz no fim do túnel, com os anúncios de vacinas contra o tão famigerado vírus, que mudou repentinamente os trilhos de nossas vidas.

As mudanças constantes tendem a gerar naturais inseguranças, ainda mais para as empresas e gerações de pessoas que tinham por hábito planejar o seu futuro, passo a passo.

Estas mesmas inseguranças também fazem com que tentemos nos agarrar nas nossas ideias antigas, nas formas que estávamos acostumados a pensar, como uma boia salva-vidas, no meio de um mar revolto e impiedoso, que nos joga todos de um lado para o outro.

Nós queremos surfar novas ondas, mas também não queremos nos afogar. Neste conflito de emoções, o mundo navega, fazendo com que os nervos fiquem mais a flor da pele.

Isto se verifica muito fortemente nas redes sociais e nas mídias como um todo. Posicionamentos exacerbados, formas de colocar extremadas, interpretações antecipadas e mesmo distorcidas das palavras e dos fatos têm se reproduzido com certa frequência.

As pessoas, por afinidade, acabam se juntando em grupos, tentando unir forças, para rebater, numa tentativa de fazer valer a sua verdade, defendendo seus pontos de vista com unhas e dentes, tornando-se surdas e cegas aos que os outros estão dizendo e fazendo. Quase como numa tentativa de calar e tampar os ouvidos de vozes perturbadoras, que podem tirar o único ponto de apoio, num lamaçal de areia movediça.

Entretanto, é justamente nas vozes dos outros, que desesperadamente tentamos calar, que podem estar as soluções aos novos problemas que surgem a cada dia. Afinal, novos desafios dificilmente podem ser solucionados sem sair fora da caixa.

Mas, curiosamente, reagimos instintivamente, na defensiva, sem raciocinar. É como um salva-vidas que ao se lançar no mar para resgatar uma pessoa que está prestes a morrer afogada, pode ser sufocado pela pessoa resgatada, tal o desespero dela em não perder sua vida.

Este momento que vivemos é perturbador, não somente porque gera certa angústia, mas também porque nos dá a oportunidade de ter um dia novo e totalmente inusitado a cada dia.

Entender isto é sem dúvida um desafio.

Talvez a grande sabedoria do mundo atual é aprender a vivenciar este momento rico e único de nossa existência com tranquilidade, ouvindo e descobrindo com o outro, para não nos afogarmos.