A vivência de pessoas LGBTQIAP+ raramente é representada da forma correta na sociedade, na mídia, nas palestras e até nas conversas de corredor de qualquer espaço.
Acostumadas a esconder suas dores, amenizar as falas sobre suas histórias, e fingirem que está tudo bem, pessoas LGBTQIAP+ tendem a carregar uma carga de dores físicas e emocionais muito grande.
Nesse artigo, você vai saber um pouco mais sobre elas. E sobre você.
Analisando alguns dados sobre o Brasil
Vamos começar em escala global: O Brasil é o país que mais mata LGBTQIAP+ no mundo, pelo quarto ano consecutivo. Quando não em primeiro, ao longo da história, se mantém no topo do ranking dos países que mais matam no mundo.
Em escala nacional, segundo o relatório apresentando pela plataforma de notícias digitais da Globo, só no ano de 2021 o Brasil teve 300 casos de mortes violentas contra pessoas da comunidade.
Um relatório da Fundação Getúlio Vargas, feito em 2017, registrou 2608 denúncias no “Disque 100”, tendo como as três principais denúncias as de violência psicológica, discriminação e violência física.
Nossos relatos e relatórios, dados e denúncias poderiam seguir, mas acho que já
é possível ilustrar um pouco melhor o que é o Brasil para pessoas LGBTQIAP+.
Esse é um problema social, questão de política pública, de segurança pública, de
educação, dentre outras. Mas existe uma força muito potente na mudança dessa
realidade: o mundo corporativo.
Pessoas LGBTQIAP+ afirmaram em pesquisa do PNAD que 73% delas já foram agredidas verbalmente, e 36% afirmam já terem sofrido violência física nas escolas.
Basta um rápido levantamento do cenário de evasão escolar no Brasil para que possamos ver o cenário de exclusão e todo o prejuízo no desenvolvimento acadêmico e profissional na vida dessas pessoas. Quando e se elas chegarem ao mundo corporativo, o quanto suas histórias de vida e a consequência delas as acompanharão?
A resposta é simples: Todas.
A falácia meritocrática nos visita novamente
É possível de se imaginar que essas pessoas não terão os mesmos históricos escolares, os mesmos cursos, os mesmos projetos e nem a mesma desenvoltura social que pessoas hétero-cis-normativas quando (e se) chegarem ao mundo corporativo.
A imaginação é rápida e objetiva: Quem vai para a limpeza, quem vai para o caixa
do mercado e quem vai para a coordenação da área que passa por um projeto de
inovação?
Não bastando a violência social, muitas pessoas se escondem atrás da ideia de meritocracia. “Quem quer, vai lá e faz!” dizem por aí… Mas será? Será que é mesmo sobre o querer? Será que todas a vítimas de violência precisam apenas querer que elas não aconteçam para que não as sofram? Será que o jogo de habilidades foi desenvolvido igualitariamente entre o menino hétero que batia e o menino gay que apanhava? E se você está pensando muito, eu te ajudo: Não.
A falácia meritocrática é apenas mais um instrumento de violência social, feito para a manutenção de quem deve acessar quais espaços. E é hora de declararmos o início do seu fim.
Responsabilidade Social, até onde ela pode ir?
Eu sei que tudo que leu até aqui foi muito difícil e que você vai passar dias, talvez semanas digerindo tudo isso, mas agora eu vou te ajudar a perceber como podemos fazer muito mais do que temos feito, e como podemos ver esses resultados muito mais rápido do que imaginamos.
No início deste artigo você leu que as empresas podem ajudar a mudar isso, e talvez tenha se perdido em alguns caminhos possíveis. Agora vamos falar sem rodeios, sem dados, apenas com a linda e graciosa objetividade humana.
O preconceito, a discriminação e muitas das violências se dobram perante um poder chamado “Poder Aquisitivo”. Sim, se você é pobre, o preconceito mora no seu armário, e quanto mais você sobe nas estruturas sociais, mais pra trás de você ele fica. Lembrando que estamos no Brasil, onde você pode ter muito dinheiro e morrer de forma violenta por LBGTQIAP+fobia. Mas as chances diminuem, sim.
Quando falamos de programas de diversidade e inclusão dentro do mundo corporativo, nós falamos de anos de desenvolvimento, longas jornadas e muitas variáveis que podem prejudicar a estrutura. E faz parte, nós precisamos de programas longos e bem estruturados, mesmo que seja um processo difícil. Mas existe uma lógica muito simples e poderosa: se cada CPF trabalhar junto, se ganha muito mais poder do que um CNPJ. Isso quer dizer que se cada pessoa no seu espaço corporativo assumir pequenos compromissos, o resultado tende a ser muito maior do que o possível pela empresa.
Pense comigo: Se a migração social, o ganho de dinheiro, é uma ferramenta quase magna contra a violência social, o que você, como pessoa, pode fazer para contribuir?
Seguindo o racional de responsabilidade social, que atividades, reuniões, contratações, promoções, convites à projetos e inclusões você pode fazer no seu dia a dia que afetem diretamente membros da comunidade LGBTQIAP+?
Pense no tamanho do efeito social que você causa em contratar, ou até mesmo em apenas capacitar uma pessoa trans que vive em situação de rua. Pense no efeito emocional, de segurança física, psicológica e até alimentar que pode ser causado em uma mãe lésbica que não consegue emprego pelo julgamento alheio, nesse caso machista, misógino e LGBTQIAP+fóbico. Pense em o que é uma pessoa LGBTQIAP+ pobre, que até conseguiu se formar, tem uma família que a apoia, mas pelos “jeitos e trejeitos” não consegue nem um estágio. O que essa pessoa pode fazer por ela e pela sua família com um salário de R$4.000 como analista?
E vamos recapitular: Não é sobre sobre contratar/promover pessoas que não estão aptas ao cargo, mas sim sobre rever nosso papel nessa estrutura de discriminação. É só sobre achar seu pequeno papel de romper estereótipos e ir além. E acredite em mim, isso faz muita diferença.
Quer saber mais sobre essa diferença na prática, com histórias reais?
Continue acompanhando os conteúdos da FourAll, afinal, nossa conversa ainda não
acabou.
Paulo Rezende é especialista em DEI e Neurociência com experiência em vários subsistemas de RH. Parceiro da FourAll, é ele quem traz a sua diversidade para somar conosco neste mês do orgulho LGBTQIAP+.