Sentada na cadeira de praia, sábado de carnaval, livro na mão e eu pensando: de onde vem a ideia do que é ser mulher? Por que nós mulheres pensamos sobre isso? Não seria “natural”, “só seguir o fluxo”? Por que temos tantas dúvidas do que podemos e de como podemos ser?
São tantas as expectativas que nos acompanham desde a nossa gestação… eu não sou mãe, e só por isso já quebrei muitas delas… mas já acompanhei algumas gravidezes… são tantos os laços, as tiaras, os sapatinhos, os vestidinhos… todos rosa! Não que eu não goste de rosa, que nada – adoro!! E uso até hoje, na marcação de minha feminilidade… e são tantas as bonecas… e aí me vem à reflexão que dá nome ao texto: seremos nós mulheres ou bonecas, que estaríamos aqui pra satisfazer os desejos daqueles que nos possuem? Sejam essas pessoas nossos pais, nossos amigos, nossos namorados, nossos chefes ou maridos.
A reflexão pode parecer pesada ou até estereotipada, mas ao analisar a história da construção de gênero, da identidade de gênero mulher me deparo com ideias baseadas na biologia, na religião e até na monarquia – onde seria natural a supremacia do homem; o que nos leva a um entendimento essencialista, onde haveriam características (ou falta delas…) femininas, que se contraporiam as masculinas, como gentileza, intuição e sensibilidade – características que nos levariam, naturalmente, a dependência e à submissão.
Essas características definiriam padrões de pensamento, sentimento e de gênero. Nós mulheres seríamos, assim, emocionais, compassivas e acolhedoras. A partir dessa “natureza”, regras de conduta foram estabelecidas, papéis sociais foram atribuídos – devemos ser mães, esposas e filhas, nos dedicando a maternidade e a vida privada. Estabelece-se o culto a domesticidade, onde devemos nos devotar ao lar e a família, mantendo assim a ordem social, baseadas na heterossexualidade, casamento e reprodução.
Nessa lógica do patriarcado, os interesses das mulheres, por meio das relações de poder, são sempre subordinados ao dos homens. Nossa missão, como mulheres, seria servir.
Para mudar essa construção e as limitações que esta impõem, as lutas se dão até hoje, nas duas esferas – privada e pública; buscamos acesso a posições de poder: votar e ser votada, controlar nosso corpo, sexualidade e relações, a educação e ao trabalho.
Ser mulher não seria somente ser o outro do homem, mas a construção de uma subjetividade própria, que não se limitasse a ser uma extensão de suas fantasias e temores.
Precisamos nos construir para além das definições masculinas e não mais sonharmos por meio dos sonhos dos homens, deixando de ser objeto e buscando nossa autonomia.
Para tal nossa luta deve ser pela equidade, que nos propiciará igualdade econômica e social.