Quem joga xadrez sabe, que ao se anunciar um xeque, é sinal de atenção. E quando eles são consecutivos, ou começam a se tornar frequentes, pode ser o começo de um fim, indicando que talvez seja prudente mudar de estratégia.
O tabuleiro da vida tem dado sinais claros de que o rei está sendo ameaçado, em vários lances.
Perder a majestade não é fácil, ainda mais para quem sempre se percebeu como invencível e todo poderoso.
Depois de um mês que coloriu a sociedade, repensar o azul pode como cor predominante pode ser um passo natural, necessário, mas também doloroso.
Começo este blog, a convite de minhas sócias, para falar de um tema difícil, que todos nós homens estamos vivenciando: a reconstrução da nossa própria imagem.
Preferi o termo reconstrução, por entender que não estamos nos desconstruindo, mas nos reconfigurando, nos resignificando.
A sociedade talhou a imagem do homem (também da mulher, diga-se de passagem), ao longo dos anos, em pedra nobre, de elevada dureza, em mármore branco. Os músculos bem delineados e salientes sempre foram bem destacados, para dar uma conotação de força e de poder. Para dar mais realce à robustez, frequentemente eram colocados como adornos um escudo de ferro e uma armadura poderosa, envolvendo a massa de músculos.
O curioso que esta mesma couraça, que tem nos protegido ao longo dos anos, também tem nos limitado. E estes limites estão sendo revelados agora, na medida que nos damos conta que perdemos a capacidade de deixar movimentar livremente os batimentos daquilo que está por detrás do nosso rígido esqueleto.
A manta de ferro que nos envolve, não somente no corpo, mas também nos rostos, escondem as lágrimas, as dores, os medos, e não deixam transparecer a doçura de um olhar, ou simplesmente um sentimento. Presos nesta carapaça, ficamos vulneráveis, dentro de nós mesmos, numa armadilha, que nós mesmos nos impusemos.
Neste processo de agonia, a maior dificuldade é romper sozinhos o cadeado de ferro que nos trancafia.
E aqui, talvez entre uma mudança de estratégia importante, para que ainda tenhamos a chance de seguirmos neste jogo: perceber que neste tabuleiro também existem aliados no lado de lá.
Curiosamente aquela que se mostra a nossa maior aliada, é quem justamente nos colocou a armadura e o cadeado: a própria sociedade que nos moldou. Num movimento contrário, de fora para dentro, vivemos um processo de reconstrução imposto.
Vários grupos têm batido do lado de fora das nossas armaduras, com força, para romper nossa blindagem, mesmo que esta ainda resista às diversas investidas externas.
É hora de pegar carona neste movimento, e juntos pegarmos nossos próprios martelos, enfrentando esta briga juntos.
E quem sabe, nesta nova moldagem a quatro mãos, nos tornemos, não homens, mas simplesmente, seres mais humanos.