Nós, seres humanos, nos intitulamos reis deste planeta que habitamos, pois temos características que nos tornam capazes de nos sobrepormos aos outros seres vivos.
Definitivamente, força não é a habilidade mais relevante para nos alçar a esta posição. Comparadas as habilidades físicas em geral, somos frágeis em relação a muitos animais e a diversas forças da natureza. Somos fracos quando atacados por seres infinitesimais como vírus ou bactérias, que nos minam a saúde. Estamos vivenciando isso em larga escala nos últimos meses, neste ano de 2020 marcado pelo Covid-19, um tipo de coronavírus que parece querer roubar nosso reinado com seu formato (de coroa, daí o nome) e sua força de nos derrubar, tendo levado centenas de milhares de pessoas à morte em todo o mundo.
Talvez a nossa comunicação seja um diferencial interessante. Somos capazes de falar diversos idiomas e de nos relacionarmos com outros seres (humanos ou não) em diferentes linguagens. Mas isso não é o bastante para que tenhamos sociedades organizadas como as das formigas, por exemplo. Ou a grande maioria dos insetos, que consegue estabelecer e seguir padrões inquestionáveis, vivendo de forma ordeira e defendendo interesses comuns dentro das suas forças e limitações. Toda a nossa habilidade de comunicação não é o bastante para que possamos compreender e aceitar o que ou quem julgamos ser diferente dos nossos padrões. E, então, assemelhando-nos às formigas, atacamos e, muitas vezes, perdemos a razão.
Então só nos resta apostar na habilidade cognitiva. As muitas inteligências de que somos dotados são o que nos permite reagir frente às nossas vulnerabilidades. Se não temos força, que saibamos buscar meios para ultrapassarmos barreiras através da criação de novos processos. Se nos falta um idioma para estabelecermos contato, que possamos ser empáticos e capazes de usar diferentes linguagens para que a comunicação possa fluir harmonicamente. Sim, parece que é esta a habilidade que nos torna superiores: a capacidade de combinarmos habilidades, inteligências múltiplas e perspectivas para tornarmos fluida e serena a convivência entre seres tão diversos. Trabalhar a diversidade é também expor e acolher vulnerabilidades. Para isso, é preciso saber expor vulnerabilidades para transpor obstáculos comuns, trabalhar fragilidades para que reforcem as fortalezas, melhorar a comunicação para que viabilize relacionamentos mais estáveis e duradouros.
Eis que a natureza nos ensina como tratar a pluralidade de perfis e nos mostra mais evidências sobre a importância de fomentar e acolher a diversidade em nosso dia a dia. Somos frágeis e vulneráveis, mas ficamos mais fortes quando unimos nossas habilidades, nossas singularidades. A prova da inteligência humana como sua maior força se consolida quando todas as ações são canalizadas para o bem comum – e quando não importam as divergências. Devemos mesmo buscar a convergência se quisermos continuar reinando.