Por mais que estejamos ligados ou com os olhos treinados, muitas vezes somos traídos pelo nosso inconsciente e nos deixamos levar por ele de uma forma enviesada.
Este fato pode involuntariamente gerar problemas relacionais, tanto pessoais como profissionais, por percepções equivocadas que temos em alguns momentos.
Recentemente, há apenas algumas semanas atrás, um fato inusitado ocorreu comigo que ilustra este processo, o que pode ocorrer com todos nós.
Era noite, por volta das 20h, quando começamos a ouvir um grito de uma mulher. Eu, minha esposa e minhas duas filhas nos dirigimos para a janela que dá para uma área interna, onde cerca de 10 prédios ficam circundando, com aproximadamente 10 andares cada. Ficamos tentando identificar de onde vinha aquele grito aflito.
Pouco tempo depois, sem termos tido a oportunidade de desvendar de qual janela vinha, o silêncio voltou a reinar, nos permitindo retornar às nossas atividades normais.
Meia hora depois, novos gritos ecoaram por todos os cômodos do nosso apartamento e percebemos que quase todos os nossos vizinhos também estavam em suas janelas tentando entender o que estava acontecendo. Preocupado, pensei logo numa agressão ou algum tipo de mau trato. Já a minha esposa discordou de mim: deve ser um problema de autismo ou algum tipo de distúrbio.
Mais uma vez o silêncio se fez presente. Após novo intervalo, a voz de desespero da vizinha desconhecida voltou a surgir e junto com ela, a indignação de alguns vizinhos mais esquentados, pedindo para calar a boca, chamando de maluca ou alertando que telefonariam para a polícia.
Este processo se repetiu por mais uma meia hora, quando de repente, na janela de onde vinham os gritos, um homem anunciou eufórico: NASCEU! NASCEU!
Com um misto de entusiasmo de um lado e de surpresa de outro, ouviu-se após o anúncio do pai um clamor de todos os prédios, batendo palmas e gritando: PARABÉNS!!! PARABÉNS!!
O pai conclui: vai se chamar Beatriz! E voltou com um sorriso nos lábios para dentro de seu apartamento, nos contaminando com sua alegria.
Interessante que muitas reflexões e comentários se seguiram na minha família, percebendo como cada um de nós reagiu de uma forma diferente, tentando imaginar o que estava ocorrendo com aquela até então desconhecida vizinha e que curiosamente ninguém conseguiu acertar o que realmente estava acontecendo.
Pensamentos truncados, interpretações precipitadas, imagens falseadas associadas às nossas experiências passadas, aos nossos temores, à nossa educação, dentre outros fatores, ocorrem em diversas situações, distorcendo a realidade ou criando rótulos.
Trabalhar questões como estas é fundamental dentro de grupos e organizações para que os preconceitos e vieses sejam minimizados, possibilitando uma maior coesão e a inclusão de todas as pessoas e suas perspectivas.