Somos todos iguais?

Há controvérsias.

A Medicina diz que sim, tanto que é possível realizar transplantes de órgãos, dado que temos órgãos e tecidos constituídos igualmente. Mas, mesmo assim, é preciso que haja compatibilidade. 

A Religião diz que sim quando afirma que os homens são todos feitos à imagem e semelhança de Deus. Mas existem diferentes religiões e, mesmo entre as cristãs, nem todas veem Deus da mesma forma. 

O Direito diz que somos iguais perante a Lei, mas por muito tempo julgou os homens como iguais enquanto mulheres eram consideradas iguais às crianças: incapazes de se responsabilizarem por seus próprios pensamentos. 

Historicamente, a suposta igualdade expressa nas questões acima foi se adaptando aos costumes vigentes em cada cultura. Mas segue como uma cicatriz aparente, marcando nosso inconsciente e desafiando nossa conduta quando, ao longo dos séculos, toleramos mais ou menos alguns comportamentos associados ao que consideramos “diferente”.

Não somos assim tão iguais, então?

A Ciência diz que não somos iguais pois cada ser vivo tem um diferente e único DNA.

A Economia diz que não podemos ser iguais pois não há como sustentar a riqueza sem a pobreza. Estudos macroeconômicos baseados em indicadores como o índice de Gini apontam o equilíbrio como um ideal: os extremos (igualdade total e desigualdade total) não sustentam o desenvolvimento econômico de uma sociedade. 

Recentemente, ouvi o pesquisador gaúcho Fernando Barros afirmar, baseado num texto de Cora Ronai, que “estamos vivendo um momento histórico” para a humanidade como um todo, mas em especial para a Ciência. Artigos têm sido publicados com bastante celeridade, sem as revisões dos pares a que antes eram submetidas e que impactavam no prazo de entrega, mas também na validação dos dados. Logo, o que temos são muitos dados sendo apresentados na mídia a partir de diferentes perspectivas, às vezes, conflitantes. Notem que não estou afirmando que são certos ou errados. O que chama a atenção é que temos acesso livremente à muitos dados e informações, através de diferentes fontes. Esta é uma característica muito interessante deste momento (histórico): temos acesso à informação em tempo real. Muita informação, muitos pontos de vista, muitas fontes. Muito diferente de outros momentos (igualmente históricos) quando a humanidade vivenciou epidemias e a informação chegava mais tarde. 

Neste ponto, simpatizo com a percepção do pesquisador: acredito que essa condição peculiar nos faz viver esse momento – histórico, sem dúvida – com a possibilidade de construirmos uma consciência coletiva, de tomarmos decisões a partir de diferentes informações. Mas há um risco: o risco de escolhermos a fonte errada por buscarmos apenas aquelas que transcrevem os nossos pensamentos ou traduzem a cena sob o nosso ponto de vista.  Para mitigar este risco em potencial é preciso que saibamos tratar a informação e confrontá-la com fatos apresentados por fontes confiáveis. Mas antes, é preciso que estejamos abertos a ouvir e analisar os diversos pontos de vista.

Somente assim, aproveitaremos o que de melhor tem esse tempo em que vivemos: a informação disponibilizada em tempo real, livre e irrestrita. E poderemos, juntos, navegar no mesmo mar revolto, em nossas embarcações diferentes, cada um na sua velocidade. Alguns com motor, outros com remo, outros com vela, com mais ou menos recursos, pensando se somos todos iguais.