Qual seria a sua idade se você não soubesse quantos anos você tem?

Ao ler essa provocação, você pode se inspirar no Dia das Crianças celebrado nesta semana e pensar na sua criança interior, ou talvez olhar seu “corpinho” no espelho e avaliar que tem “50 num corpinho de 30”, ou pode ressaltar com orgulho a sua maturidade e dizer que tem “30 com cabeça de 50”. Mas o que será preciso saber, ou buscar, para convergir a idade que temos com a idade que sentimos ter?  E por que nem sempre encontramos convergência?

A nossa idade é um dos marcadores identitários mais fortes pois é uma característica, ao mesmo tempo, irrevogável e fácil de ser mascarada. Irrevogável porque, por mais que a medicina e a estética tenham avançado, sua data de nascimento não muda e você convive com os impactos de ano após ano pesando sobre seu corpo. Mas a sua idade pode ser percebida de maneira diferente dos padrões a ela impostos pela sociedade (ao que chamo de idade mascarada), na medida em que você cuide do seu corpo e da sua mente a ponto de mascarar o tal conjunto de fatores que vão da estética à maturidade, passando por sabedoria, experiência e, certamente, padrões de beleza e comportamento atribuídos pela sociedade em que vivemos às gerações e às fases da vida, as quais vou descrever como devem ser, para alcançar a proposta desse texto que não se predispõe a tratar de desigualdades.

Crianças podem ser inocentes, pueris, infantis. Somos crianças de 0 até 12 anos, fase em que somos dependentes de alguém que nos cuide e oriente. A vida se resume aos meus sonhos e brincadeiras. A criança de hoje é nativa digital (tendo ou não total acesso a estes recursos, porque o mundo em que ela vive e para o qual deve ser formada é assim, mesmo que o mundo dela não o seja) e esta é uma característica importante da Geração Alpha (nascida a partir de 2010).

Adolescentes podem ser seres impetuosos, revolucionários, questionadores. Somos adolescentes dos 13 aos 24 anos, oficialmente… mas em muitos casos parece que vai até os 30. Sim, a adolescência foi estendida para acomodar um novo modelo de vida em sociedade, quando as pessoas mais velhas se sentem na obrigação de cuidar das mais novas por mais tempo, porque “escolher uma profissão com 18 anos é muito difícil” (mesmo sabendo que as profissões do futuro que já chegou mudam a todo momento), porque “ainda é muito cedo pra assumir responsabilidades de trabalho ou mesmo na família” (mesmo que isso ajude a conter e posicionar toda a irreverência e ponderação estimuladas), por que mais…? Talvez porque, desde 2012, o número de jovens até 29 anos que não estudam nem trabalham venha aumentando gradativamente, tendo sido impactado pela pandemia e por mudanças nos padrões de comportamento das famílias, que apoiam os jovens por mais tempo. Aqui estamos fazendo um recorte sobre o que chamamos de Geração Z, nascida entre a última década de 1900 e a primeira década dos anos 2000, que cresceu com a internet e o acesso ampliado à informação, tendo o mundo apequenado em relação ao que viveram as gerações anteriores.

Sim, a Geração Y já é adulta hoje! E, junto com a Geração X, compõe o bloco a seguir.

Pessoas adultas devem ter maturidade para lidar com os problemas da vida. Eis que a fase adulta supostamente se segue à adolescência e traz com ela a responsabilidade por si e por outras pessoas, na medida em que a vida começa a ter demandas e necessidades diferentes: minha casa, meu trabalho, minha família, meus sonhos.

Se neste bloco temos diferentes gerações, há que se pontuar o que as torna diferentes ao alcançarem o mesmo platô: sua percepção sobre a vida e sobre a tal maturidade esperada para lidar com tudo o que se impõe como “papel da pessoa adulta”, além da influência e reverência à geração anterior, lembrando que cada geração constrói o ambiente em que a geração seguinte se desenvolverá.

Em comum, ambos os grupos romperam padrões de comportamento das gerações anteriores, sempre em busca de maior flexibilidade, individualidade e tempo de qualidade. Diferem, no entanto, em sua percepção sobre o que fazer com esse tempo de qualidade e como usar a individualidade em prol de um bem comum.

Enquanto a Geração X, nascida entre a década de 60 e a de 80, no século passado, buscou promover acesso à direitos individuais de forma organizada e ainda privilegiando os relacionamentos presenciais, a Geração Y, nascida entre as décadas de 80 e 90, é reconhecida por ser mais individualista, conectada e adepta dos relacionamentos virtuais. É claro que o ambiente tecnológico em que cresceu a Geração Y é bem mais favorável a essa intimidade com o mundo virtual e é natural que essas pessoas, hoje adultas, tenham mais facilidade com estes recursos. Tanto quanto as pessoas da Geração X que tiveram acesso à tecnologia enquanto ela se desenvolvia. O que se vê hoje ainda é que a habilidade de ser multitarefas que foi desenvolvida por estas pessoas contrasta com sua resiliência, característica ainda mais presente na Geração X, pela instabilidade econômica e social que experienciou em uma década a mais de vida. Sem falar na desigualdade de acesso que impacta diretamente na absorção do tanto de informação disponível pelos tantos meios digitais. Mas eu disse que não falaria de desigualdade…  

E já que falamos em décadas a mais de vida vivida, é preciso falar sobre as pessoas idosas, com mais de 60 anos, classificadas pelos estudos geracionais como Baby Boomers ou Veteranas. A melhor idade!

No livro “A Bela Velhice”, Miriam Goldenberg sugere que a bela velhice em questão, a mesma que é chamada de melhor idade e que também gera medo em tantas pessoas, é nada mais que o resultado de um belo projeto de vida. Essa constatação não é dela, pois já fora citada anteriormente por Simone de Beauvoir no livro “A velhice”. Mas percebam que, mesmo quando nos deparamos com afirmações como esta, ainda nos limitamos aos padrões de comportamento sugeridos para cada idade, um dos geradores de conflitos entre gerações.

A pergunta que intitula este artigo é atribuída a Confúcio e nos fala sobre o quanto a preocupação com a idade de uma pessoa já existia desde a antiguidade. Seria uma surpresa para você se eu afirmasse que os conflitos entre gerações também ocorrem desde que o mundo é mundo?

Na Antiguidade, já havia questionamentos sobre o futuro da sociedade pois a juventude estaria perdida, desenfreada, desrespeitosa… Frases de Sócrates, Hesíodo e outros podem ser encontradas em diferentes fontes e marcam o descontentamento de pessoas maduras com aquelas que deveriam suceder-lhes em suas funções. Resumidamente, o quadro se repete geração após geração, à despeito da complexidade ou mesmo da qualidade das interações e de todo avanço da tecnologia, que acaba sendo um tempero a mais nessa receita.

E a receita é simples: a Diversidade Geracional sempre existiu e sempre existirá. Nosso mundo do trabalho hoje é composto por até 4 gerações diferentes. E novas gerações virão e o intervalo entre elas tem diminuído, de modo que características interseccionais serão atravessadas nos grupos. Precisamos saber lidar com isso!

Diversidade poderia ser uma palavra para definir diversidade etária. Afinal, diversas idades convivem nos diferentes subsistemas ou grupos que formamos numa sociedade. Quando falamos em diversidade etária, falamos de diferentes gerações, mas, acima de tudo, falamos de mudanças e como sobrevivemos a elas ou convivemos com elas. A pirâmide etária está em constante mudança e as mudanças tecnológicas vividas no último século são apenas o começo de um movimento sem fim. Pois a evolução é um talento do ser humano.

E, se cada geração constrói o futuro em que as gerações seguintes vão viver, se o contexto de mudança é uma constante e isso impacta a todas as pessoas, só nos resta conviver.  

Sim, foram muitas mudanças já vividas em relativamente pouco tempo, especialmente se considerarmos o tanto de tempo que existimos como humanidade e como sociedade. E o que, afinal, aprendemos com tudo isso? 

Oscar Wilde diria que “Os velhos acreditam em tudo, as pessoas de meia idade suspeitam de tudo, os jovens sabem tudo.” 

E você?