Como nasci mulher e me identifico como tal, sempre achei que ser mulher era algo natural e não muito diferente do que seria ser homem…
Cresci numa família que não me apresentou a grandes diferenças, como “você não pode ser isso ou fazer isso porque você é mulher ou isso é coisa de menino”… estudei em uma escola onde não me foi ensinada a limitação… mas ao entrar na faculdade, comecei a perceber que existiam ambientes onde haviam mais mulheres, muito mais do que homens… assim como haviam mais branco/as do que negro/as.
Pela minha escolha de carreira, vivi em ambientes prioritariamente mais “femininos”, como a área de recursos humanos… mas por que eles ainda hoje são prioritariamente femininos? Será que há “coisa de menina e coisa de menino”? Há semanas atrás, em um de nossos webinars da Academia da PlurAllidade, escutei um relato de uma coordenadora acadêmico-pedagógica sobre a aceitação dos pais quanto a um professor de ensino básico do sexo masculino…
Evoluindo na carreira, comecei a fazer parte do corpo executivo de empresas e me deparava, novamente, com a reflexão sobre como ambientes podem ser definidos pelo sexo/gênero, mas onde agora eu, como mulher, não era mais a maioria. Comecei a trabalhar em ambientes onde eu era minoria e muitas vezes a única mulher. Isso realmente não era um incômodo para mim, mas percebia que podia ser para os meus pares – uns queriam me proteger, já que eu era o “sexo frágil”, outros preferiam me ver como “um deles”, talvez por não saber lidar com a diferença e outros me atacavam, desejando que eu não estivesse ali, talvez por não suportarem a diferença que eu exemplificava. Mas isso ainda não me incomodava, por que nós não agradamos a todo/as, certo? Até o momento quando percebi que havia mais do que estranheza ou mesmo preconceito proveniente de estereótipos, havia discriminação – eu ganhava menos que meus pares homens… Aí eu já não era somente tratada como diferente, mas também eu era reconhecida e recompensada como “inferior”. A partir desse momento, comecei realmente a perceber e a sentir que ser mulher numa sociedade patriarcal, comandada por homens, coloca a mulher em um contexto de minoria e de inferioridade, onde não somente é tratada como diferente, por ter capacidades e necessidades diferentes, mas sobretudo por ter, em função de seu gênero, menos valor para a sociedade.
E foi a partir desse lugar de fala e de privilégio, de uma mulher branca cis, heterossexual, 50 anos celebrados recentemente, com mestrado e de classe média que apresentei minhas reflexões sobre gênero sob a perspectiva de mulher que escrevi o módulo Gênero – Mulheres para a nossa Academia.