Mãe é mãe. Você já deve ter usado esta frase. Mas eu te convido a repeti-la e refletir sobre seu significado. Afinal, mãe é mãe.
E o que é uma mãe? O que faz de alguém, mãe?
Mãe é sujeito ou adjetivo? Mãe é protagonista ou coadjuvante? É sujeito quando se permite ser, quando protagoniza e assume o papel de quem é pessoa responsável pela criação das crianças que tem sob a sua guarda. É adjetivo quando é reconhecida como tal, a partir do que se espera da figura maternal que representa.
Mãe é uma figura feminina. Mas muitas vezes o papel que se espera da mãe é desempenhado por um pai ou uma figura paterna, masculina. (Importante ressaltar que aumentam ano após ano os índices de mães e pais solo no Brasil, batendo em 6% e 4%, respectivamente, em 2022. E deixo esta informação assim, entre parênteses, para indicar que mesmo não sendo números expressivos, aqui estão para marcar que não existe um único padrão.)
Ora, então quem é a mãe? É provável que você tenha uma referência: a sua própria mãe, uma avó, uma tia, a mãe de uma pessoa amiga ou até você mesma, se for mãe. Mas que mãe é essa?
“Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento.”
A mãe de Carlos Drummond de Andrade, em “Lição de coisas” (2012), é eterna, eternidade, ele questiona Deus porque permite que uma mãe morra e afirma que o filho será sempre pequeno perto da mãe.
“Tu, grande Mãe!… do amor de teus filhos escrava,
Para teus filhos és, no caminho da vida,
Como a faixa de luz que o povo hebreu guiava
À longe Terra Prometida.”
Para Olavo Bilac, em “Poesias” (1888), é a mãe quem ilumina e guia o caminho dos filhos, de cujo amor é escrava.
Curioso perceber que os dois poemas, ainda que não sejam contemporâneos, trazem elementos figurativos para definir antagonicamente a figura materna. Mãe é aquela que não pode morrer, que é eterna, a quem Deus não pode levar e que apequena a figura filial, fazendo-se grande, superior. Mãe que é escrava do amor de seus filhos e, ao mesmo tempo, guia seus caminhos.
Mas volto à pergunta: o que é uma mãe?
Recorrendo ao dicionário, como faço muitas vezes, encontro “Aquela que gerou, deu à luz e criou um ou mais filhos. Aquela que criou uma ou mais crianças, embora não tenha relação biológica com ela(s).”
Então depois de ponderações, poemas e dicionários, estamos de acordo que gerar, carregar no ventre por até 9 meses, parir, amamentar e criar são características que definem uma mãe. Mesmo sabendo que nem todas as mães geram, nem todas carregam no próprio ventre, nem todas vivenciam o parto (seja como for), nem todas amamentam. Podemos, pois, afirmar que todas as mães (que são mães por definição, por vontade, por carreira, por intenção e por amor) criam suas crianças. E o fazem para o mundo, não para elas mesmas.
Então mãe é quem cria suas crianças para o mundo, quem as educa, guia, molda. E tudo isso é evidência do tão falado amor de mãe.
Se estamos de acordo, vamos à mais indagações pertinentes. Que mãe sou eu? Que mãe é você? Que referências temos? Que padrões seguimos? A família que criamos quando nos definimos como mães é a base da formação de nossas crianças, forma ou molde em que crescerão e se tornarão pessoas adultas. Por isso, é tão importante refletir sobre esta mãe que estamos sendo (assim no gerúndio mesmo), pois ainda há tempo de rever algum conceito, algum padrão, alguma parte desse guia que estamos usando para formatar nossas crianças nas melhores pessoas adultas que queremos deixar para o mundo.
Clichê ou não, é esta a reflexão que proponho. Vou começar e deixo que você continue… pode deixar nos comentários, pode me mandar um e-mail, pode publicar numa rede social… ou somente discutir com as suas crias, se preferir manter no privado. Pois é por elas (nossas crias) e por cada uma de nós, que devemos ser melhores a cada dia.
Que mãe sou eu, afinal?
Eu sou mãe por vocação. Quando criança já falava que queria ter filhos. Grávida, idealizei o parto normal que não foi possível nas duas gestações, mas tudo bem! Mariana e Arthur nasceram com saúde. Ela, em 2004. Ele, em 2007. Ambos foram amamentados e acalentados. Eu curto ser mãe, curto cada momento, mesmo repetindo a frase que um dia me disseram e que uso como mantra até hoje: “filhos são como um jogo de video game, a fase seguinte é sempre mais difícil”. Não sei quem foi a sábia pessoa que cunhou esta frase, mas ela é bem verdadeira. E eu, que não sou pessoa de desafios, abraço cada desafio da maternidade por amor a eles. Por eles, conciliei minha carreira profissional e a rotina do lar e do cuidado. Não tive licença maternidade de 180 dias. Mas a maioria das mulheres, ainda hoje, não tem… Isso não é impedimento, é falha de processo. Pois hoje entendo que o papel da sociedade, com suas leis, políticas públicas e processos organizacionais, é oferecer igualdade de oportunidades para todas as pessoas. Eu não fui demitida grávida ou no retorno de licença. Quando engravidei do Arthur eu já tinha a minha consultoria e optei por um período quase sabático, porque eu queria viver com calma esse momento, sim. Mas também porque eu acreditava que não seria contratada grávida. Hoje fico feliz quando vejo alguém celebrando por ter sido contratada grávida. Feliz porque percebo essa transformação no ambiente de negócios. E grata por estar fazendo parte desta transformação ao levar estas reflexões para dentro das organizações que, como não me canso de dizer, são espaços de reeducação de pessoas adultas.
Que essa oportunidade de transformação e reeducação guie as empresas e suas pessoas colaboradoras responsáveis por políticas e práticas internas para a busca constante de mais espaços de fala e de escuta para todas as pessoas, de benefícios inclusivos para mães e pais, de criação de redes de apoio para que as famílias possam prosperar, dando vez e voz à todas as mães, como eu, como você, como as referências que temos.
Fica aqui meu desejo de dia das mães: que sejamos as melhores mães que pudermos ser, respeitando e ensinando a respeitar todas as pessoas como elas são, ocupando os espaços que quisermos ocupar, com apoio e inspiração para criarmos nossas crias para um mundo mais inclusivo. Pra mim, é isso o que define e caracteriza a mãe! Ao menos, a mãe que me esforço todos os dias para continuar sendo, pois minhas crias estão quase prontas para o mundo, mas quero seguir iluminando o caminho delas por onde forem!