Escolhi para falar deste tema, a convite da FourAll, uma passagem que me marcou muito na minha experiência de vida e que trago comigo dentro do coração.
Desde que entrei como aluna, há muitos anos atrás, ainda na educação infantil, pude vivenciar uma experiência única na minha turma de “jardim 2”. Estamos falando dos anos de 1975….
Eu convivia com muitos amigos na sala de aula e um em especial, que me marcou profundamente, foi o Felipe que tinha Síndrome de Down. Felipe era o mais doce, meigo, alegre e cativante companheiro. Ele era inquieto e sua pouca concentração para as histórias fantásticas que a professora nos contava me chamou a atenção num primeiro momento. Depois, ele foi mostrando outros lados dele, que fui percebendo ao longo das minhas interações com ele.
Ele era uma pessoa que transbordava alegria, e expressava isso sem melindres. Ele era a felicidade em pessoa. Era contagiante.
Felipe era também dotado de uma sensibilidade fora de série, que pescava tudo que estava se passando ao seu redor, mesmo que isso não fosse fácil de ser percebido.
O que ele conseguiu cativar em mim foi o seu lado meigo, sincero e amigo. Mas cá entre nós, difícil não se deixaria envolver, não é mesmo?
Aquele ano no colégio foi marcante!!! Aprendemos muito com Felipe. Ele nos apresentou um mundo novo e que guardo para sempre dentro de mim. Simplesmente ser.
Através dessa breve experiência no meu início de vida, já que ele ficou apenas mais um ano no meu colégio, despertou em mim o desejo de ser educadora e de ajudar a fazer um mundo melhor, mais justo e igualitário, onde todos possam conviver harmonicamente!
Anos se passaram, circulei por todas as séries da educação infantil, acolhendo os ainda relativamente poucos casos de inclusão que a mim chegavam. A cada um deles, me vinha a lembrança do rosto alegre do Felipe. E como no caso do Felipe, todos os casos que pude vivenciar na minha vida profissional, eles só reforçaram a minha certeza inicial, que a inclusão é muito mais benéfica para os que convivem com o incluído do que para o próprio incluído.
Para ocorrer a inclusão de fato precisamos enxergar com os olhos de criança… os mesmos que me fizeram enxergar o Felipe.
Eles tornam todos igualmente importantes e os enxergam como eles como realmente são.
por Daniela Carvalho
Psicóloga, Coordenadora pedagógica e Professora de Educação Infantil, além de membra da Academia da PlurAllidade