Criando meninas e meninos

Era 2004 e eu estava grávida da minha filha, quando li o livro “Criando Meninas”, que me fez acreditar que havia uma diferença brutal entre ambos os sexos. Afinal, a pergunta que eu mais ouvia era “Menino ou menina?” E eu, mãe de primeira viagem e filha única, realmente desconhecia o que poderia estimular essa diferença. Já na capa, a autora questionava por que ainda somos frágeis. Frágil? Não sei… Sempre questionei esse adjetivo quando relacionado às mulheres, assim, de forma indiscriminada. Acho que as mulheres que conheço e com quem convivo – e falo de mim mesma, da minha mãe, da minha sogra e poderia citar uma lista enorme – são mulheres fortes, decididas, responsáveis. Frágeis, às vezes. Mas todos podemos ser, independente do sexo. Eu achava – e continua acreditando nisso. Mas enfim, encantada com a maternidade, devorei o livro, que me pareceu ao mesmo tempo interessante e básico.   Interessante, quando trazia questões relacionadas à feminilidade, ao desenvolvimento da fala, autocontrole, autodefesa, fragilidade, como estimular minha filha e transtornos comportamentais. Pareceu básico quando tratava sobre temas que eu reconhecia – pois também sou menina – como sexualidade, brinquedos para meninas (para meninas!?), ciclo feminino, adolescência e relações familiares. 15 anos depois, acho que tudo se mistura muito: minha vivência como menina e minha experiência como mãe de menina se complementam, como eu imaginei ao ler aquele livro, que não me apresentou muitas novidades, na ocasião, mas me fez ainda mais curiosa sobre como seria a experiência de ser mãe de menino. 

Então veio 2006 e a segunda gravidez. Desta vez, seria um menino. E eu fiz questão de ler “Criando Meninos”. Por que os meninos são diferentes, afinal? Esta é uma das chamadas da capa. E eu só pensava… “diferentes em que?”. Achei os livros bem diferentes, de fato. Enquanto o livro sobre meninas falava de feminilidade, o livro dos meninos falava sobre mentores, referências, tratava da importância de fazer deles homens felizes e equilibrados. Fiquei curiosa. A experiência confirmou que meninos falam mais tarde, amadurecem mais tarde, são mais “dependentes”. Mas o livro fala de hormônios, da vulnerabilidade dos meninos, sua relação com os esportes. A parte dos hormônios começa a ficar mais clara agora, quando meu filho completa 13 anos. Acho que preciso ler de novo… Mas lembro bem que me chamou a atenção o tanto que o livro falava sobre exemplos e mentores. Bem, meu filho tem um pai presente e dedicado, meu marido, meu sócio. Um exemplo em vários sentidos. Isso não me preocuparia. Mas por que somente o livro sobre meninos enfatizava a necessidade de terem mentores? Isso não seria igualmente relevante para as meninas?  

Estudo da KPMG intitulado Cracking the Code atestou que a mentoria é uma ferramenta que ajuda a promover não a igualdade, mas a equidade entre gêneros na medida em que ajuda no desenvolvimento individual de competências. Mulheres valorizam a mentoria mais que os homens (42% X 28%) pois, para os homens, é mais fácil conseguir apoio nas organizações.

Hoje, trabalhando com pluralidade e explorando o conceito de diversidade de gênero, entendo que a sociedade fez o que pôde com suas crenças e costumes ao longo dos séculos. E que ainda há muito a fazer pois em milhares de anos temos apenas algumas décadas de reflexão e estudos sobre a igualdade entre os gêneros. Ou entre as pessoas, pra ser justa com a ideia em foco. Não importa o sexo biológico, a identificação de gênero, a cor da pele, a religião ou a nacionalidade. A idade pode trazer mais ou menos experiência, é fato. E anos de vivência podem acumular e até camuflar vieses que não perceberemos até que nos toquem. 

Eu fui estimulada a pensar nisso tudo pela minha vivência como mãe e, em especial, pelo convívio com 2 adolescentes inteligentes e questionadores. Mais ainda, me sinto instigada a estudar cada vez mais para clarificar o tema e desmascarar preconceitos que podem interferir na vida dos meus filhos e de tantas outras pessoas. 

Combinando as frases que fecham os dois livros, quero finalizar reafirmando minha intenção de fazer o meu melhor esforço para ajudar meninos e meninas a voarem pelos caminhos que escolherem!