Segurança Psicológica será um dos temas mais falados em 2024, dada a relação direta com saúde mental e com novas práticas de gestão como semanas de 4 dias, unboss e a jornada constante por ambientes mais inclusivos e, portanto, diversos.
Retomamos nosso blog nesta primeira sexta de janeiro com a missão de falar sobre este tema, que também será abordado em palestras em empresas clientes.
Em busca de ambientes psicologicamente seguros, buscamos saber mais sobre nós mesmos e sobre as pessoas com quem convivemos, sejamos líderes ou não. Porque já sabemos que não cabe somente à liderança a responsabilidade por ambientes mais inclusivos, certo?
O que mais sabemos:
- Seres humanos gostam de certezas, apreciam a segurança e evitam (fogem ou atacam) tudo o que lhes parece uma ameaça (aos padrões de certeza e segurança já estabelecidos).
Falamos sobre isso em nossas palestras e treinamentos quando abordamos o conceito de diversidade, explorando o que é diversidade e por que o tema causa tanta controvérsia e discussão. A neurociência explica que nosso cérebro límbico ainda é primitivo e guarda a memória do que é seguro como o que é conhecido, estabelecendo padrões reconhecidos que nos trazem conforto. O oposto, qualquer coisa ou pessoa que fuja a esse padrão, é marcado como ameaça e tratado como tal, estimulando as reações de fuga ou ataque.
- Por tudo isso, um dos vieses mais comuns é conhecido como “Viés do status quo”, definido por Richard Taler e Cass Sustein, autores do livro “Nudge” como um nome rebuscado para a inércia.
Erramos por omissão, enquanto nem nos damos conta de que o que acontece ao nosso redor pode ser melhorado, dependendo de esforço e ação nossa, inclusive. Na maioria das vezes, permitimos que nossas reações sejam fruto de nosso pensamento rápido, aquele a que o professor Daniel Kahneman chama de Sistema 1, que busca as respostas automáticas para as opções conhecidas, como em uma URA de atendimento eletrônico com uma única opção (algo como… “para assumir que o homem preto jovem vestido de short e chinelo, sem camisa, é um ladrão em potencial, reaja atravessando a rua imediatamente”).
- Também sabemos que uma dor psicológica pode doer tanto quanto uma dor física.
Um estudo do pesquisador de neurociência social Naomi Eisenberger, da Universidade da Califórnia, indica que a dor física e as rejeições sociais compartilham substratos neurocognitivos. Quando analisaram as imagens cerebrais do estudo, encontraram atividade na porção dorsal do córtex cingulado anterior, que é a mesma região neural envolvida na dor física. Isso significa que a sensação de exclusão provocou no cérebro o mesmo tipo de reação que a dor física pode causar. Foi demonstrado, então, que a mesma área do cérebro que lida com a dor física também administra a dor / exclusão emocional.
- O estresse compromete as nossas habilidades cognitivas.
Estresse é uma resposta física do nosso organismo a um estímulo, que nos devolve ao modo primitivo do atacar ou fugir e demanda respostas rápidas. Por isso agimos de forma mais automatizada quando estamos estressados ou estressadas – e nem sempre percebemos. Fato é que não devemos menosprezar os sentimentos e emoções. Ao contrário do que muitas pessoas pensam (porque esse era um mantra de alguns poucos anos atrás), as emoções vão conosco para onde formos, o que significa dizer que a vida é uma só. Não existe a vida pessoal separada da vida profissional; não existe o problema de casa que fica em casa e a questão de trabalho que fica no trabalho. Aliás, com a pandemia, isso só se intensificou pois o trabalho de muita gente veio para dentro de casa e novos conflitos surgiram a partir daí, deixando as pessoas mais vulneráveis as suas emoções.
- Por fim, sabemos que tudo isso tem a ver com saúde mental e segurança psicológica, ingredientes para um ambiente seguro.
Saúde mental é sobre como você se sente consigo mesmo, como interage com as suas próprias escolhas, com a vida que leva.
Segurança psicológica é “simplesmente a manifestação da necessidade de autopreservação em um sentido social e emocional”, segundo Thimothy Clark. A autopreservação nos remete à pirâmide de hierarquias de necessidades de Maslow, onde percebemos que, depois das necessidades fisiológicas, na base da pirâmide, da segurança à realização pessoal, todas as demais impactam e são impactadas pela interação com outras pessoas.
Segurança psicológica, enfim, se refere à experiência de se sentir capaz de expressar-se com ideias, perguntas e preocupações ou mesmo cometer erros, sem que haja represálias ou humilhações.
Reflexões sobre o conceito de ambiente seguro
“Quando a cultura de uma empresa é psicologicamente segura, os funcionários de todas as origens são mais propensos a se sentir incluídos, seguros para aprender, seguros para contribuir e seguros para desafiar o status quo – tudo sem medo de serem envergonhados, marginalizados ou punidos de alguma forma.”
Do livro: “The 4 stages of psichological safety” de Timothy Clark
Clark representa graficamente essa ideia a seguir, demonstrando com os eixos de RESPEITO (na vertical) e PERMISSÃO (na horizontal) ressaltam os níveis de exploração e paternalismo que impactam diretamente a sequência de fases, começando pela Exclusão e seguindo com:
- Inclusão
- Aprendizado
- Colaboração
- Desafio
As 3 primeiras fases demarcam os limites da segurança psicológica que facilita a inclusão em um ambiente.
Segurança de Inclusão tem a ver com pertencimento, com a sua adesão a um grupo. Nesta fase, o que importa é sentir-se membro do grupo, pertencer, mesmo que a pessoa nem seja ouvida.
Segurança de Aprendizado é a fase em que nos colocamos mais vulneráveis, assumimos riscos e desenvolvemos resiliência inerente ao processo de aprendizagem. É quando fazemos perguntas, ponderamos e expomos nossas dúvidas, permitindo e acolhendo o erro.
Segurança de Contribuição é quando nos sentimos capazes de colaborar para a criação de valor do grupo ao qual pertencemos, sem amarras e com entusiasmo.
A fase seguinte nos leva a outro patamar: o de um ambiente seguro.
Segurança do Desafio é o que nos permite sentir seguros para desafiar o status quo sem retaliação ou o risco de prejudicar nossa posição pessoal ou reputação. Temos segurança do desafio quando sentimos que podemos divergir e discordar de outras pessoas, mesmo que sejam a maioria, quando pensamos que algo precisa mudar e é hora de dizer isso. Isso nos possibilita superar a pressão da conformidade e nos dá uma licença para inovar e ser criativos.
E por que é tão difícil ter um ambiente seguro?
Pare e reflita quantas vezes você foi a pessoa que fez perguntas e quantas outras vezes você foi a pessoa que não deixou que outras pessoas fizessem uma pergunta. Quantas vezes você apontou problemas e quantas vezes julgou as pessoas que apontaram problemas. Quantas vezes você confrontou autoridade versus as vezes em que você foi quem impôs a autoridade.
Seja qual for o papel que você ou eu ocupamos, estamos sempre agindo, tomando decisões e fazendo julgamentos que impactam outras pessoas. Por isso é importante refletir sobre a qualidade de nossos julgamentos.
Que tal pensar sobre isso? Aproveitando o início de um novo ano, deixo aqui o convite para que suas metas incluam menos julgamento e mais empatia.
Até o próximo blog!