Esse ditado chinês ajuda a explicar o conceito de pluralismo, definido como uma doutrina ou sistema que admite a existência de opiniões e comportamentos culturais e sociais diversos coexistindo numa mesma sociedade. O peão e o rei são peças diferentes de um mesmo jogo, têm funções e movimentos diferentes, pesos diferentes. Mas são guardados na mesma caixa quando o jogo acaba. Assim são as pessoas, iguais em direitos e deveres, diferentes em tudo o mais: cor de pele, capacidades, religião, atitudes, formação, comportamentos, gênero, ideias, gerações, perspectivas, deficiências, inteligências. Nossa pluralidade está no conjunto de todas as características que nos definem e estas características podem atrair pessoas por afinidade, mas também podem causar distanciamento das diferenças por conta dos vieses. Eis o desafio de trabalhar a diversidade nas organizações.
Nesse contexto, fica mais fácil entender por que diversidade tem a ver com cultura e mindset. E como é preciso mexer no mapa mental pré-programado para reagir ao que é diferente do que julgamos ser um padrão. Culturas são formadas por padrões. Empresas são formadas por pessoas que seguem padrões. E a cultura de uma empresa só muda se as pessoas mudarem. Historicamente, a sociedade vem promovendo mudanças em blocos de tempo, mudando costumes e padrões de geração em geração. Cada vez mais rápido. Mas a mudança de mindset depende de muitos fatores e um deles é a percepção de ganhos. Os benefícios da linha de chegada estão cada vez mais claros: respeito à diversidade traz melhores resultados. Mas as empresas ainda resistem. As pessoas ainda resistem. Talvez seja preciso explorar mais os benefícios da jornada.
Por que diversidade ainda é um desafio para as empresas? Porque é um desafio para as pessoas e muitas não admitem. Porque a jornada de mudança de mindset e comportamento não é fácil. Experimente começar um papo sobre diversidade no cafezinho – vale no café virtual também – e logo você verá que a grande maioria das pessoas não se considera preconceituosa e afirma acreditar no valor da diversidade. Mas isso não se reflete na prática quando são avaliados os processos seletivos das empresas, por exemplo. É por conta dos vieses que muitas empresas, mais conscientes do desafio, inovam com processos às cegas ou específicos para determinados perfis, como profissionais com deficiências ou pessoas pretas. Então, ações de recrutamento como estas são a solução? Não. Pois não basta colocar pra dentro, é preciso reter e desenvolver para crescer. Ações isoladas podem ser o gatilho de um processo de mudança, chamando a atenção das pessoas envolvidas para seus vieses e a necessidade de observá-los, evitando que as decisões sejam impactadas por eles. Educar-se para respeitar a diversidade é um ato contínuo de desenvolvimento.
Somente assim as pessoas e as empresas poderão tomar partido na mudança de cultura que deve, sim, começar de dentro pra fora. Primeiro nas pessoas, depois nas organizações e, então, na sociedade. Não se preocupe se sua empresa ainda não mudou. Vai mudar. Sabe por quê? Porque quando as pessoas e a sociedade mudam primeiro, a empresa perde seus talentos, seus consumidores, seu lucro. Mas e se uma pessoa não quiser mudar? Vai mudar ou ao menos vai aceitar, pois vai conviver. E quando a sociedade muda, as empresas seguem e as pessoas que não mudarem junto ficarão sem trabalho, sem consumo ou sem outras pessoas ao seu redor. Então, aceitar é um caminho? Aceitar pode ser o primeiro passo para quem resiste ou não quer entender que o objetivo é respeitar. Como o xadrez, implantar uma cultura favorável à diversidade é um jogo de estratégia. Trabalhar a diversidade e o respeito à pluralidade é mexer num caldeirão de comportamentos e talentos humanos, possibilitando superar desafios, conectar oportunidades e trilhar uma jornada real de inclusão de todas as pessoas.
Inspirada pela agenda do Kenoby Talks Live 2020.