Somos tod@s iguais frente à Covid

Em tempos de Covid-19, algumas reflexões acabam por se impor… O mundo nunca mais será como antes… isso está cada dia mais claro, mas precisamos também ter claro que, apesar de estarmos todos no mesmo mar, hoje bastante revolto, não estamos navegando nas mesmas condições. Alguns estão mais preparados e protegidos, outros estão bem mais expostos, infelizmente.

Devemos pensar se isso é algo causado pelo momento atual ou algo que vem se perpetuando ao longo do tempo e agora, mais uma vez, nos mostra como somos diferentes, em questões pessoais, mas também em questões sócio-econômicos.

A pandemia se iniciou por um grupo privilegiado de nossa sociedade, as classes mais altas, pois estes  trouxeram a doença em função de seu contágio no exterior. Essa situação acabou por trazer uma “falsa ilusão” de que ela era mais democrática porque não escolhia a quem contaminar. Enquanto seres humanos, podemos entender que realmente há possível democracia na possibilidade do contágio, mas há a mesma democratização na possibilidade de oportunidades? Quanto a manter o isolamento social, ao acesso a tratamentos, a condições de saúde pre-existentes, a condições de sobrevivência financeira, entre outras?

Quando nos questionamos, tendo em mente essas questões relativas ao acesso às oportunidades, percebemos que a Covid-19 é somente mais um exemplo que como, apesar de pertencermos a mesma espécie, todos os seres humanos são únicos, singulares e diversos. Mas isso seria uma dádiva, sabemos que nossas diversidades nos tornam quem somos e nos fazem perceber o mundo de diferentes perspectivas, o que nos enriquece como indivíduos e como coletividade. Porém estas diferenças também nos marcam de forma não positiva. 

Nesse sentido, podemos falar sobre privilégios, preconceitos, estereótipos e discriminação, entre outros… A Covid-19, como qualquer outro fenômeno, não é percebida e vivida da mesma forma pelas pessoas, além de não impactá-las de forma igual também. Assim, questões identitárias, marcadores identitários como gênero, raça, idade, deficiência, escolaridade, condição socioeconômica, entendidas como as dimensões da diversidade inerente e/ou identitária, impactam diretamente em como esses fenômenos são experienciados pois, muitas vezes, as pessoas têm ou não acesso à oportunidades em função de condições que não tem relação com merecimento ou esforço pessoal, mas sim em função de características identitárias e de questões socioeconômicas. Assim, a Covid só joga mais luz às questões de desigualdades existentes em todas as sociedades.

Alem dessas questões que atuam de forma vertical, existe a interseccionalidade – diversas dimensões/características podem interagir em níveis múltiplos e simultâneos, acumulando-se ou mesmo se sobrepondo uns aos outros, afetando de forma potencializada alguns grupos, em sua maioria aqueles mais vulneráveis. Se você faz uma breve pesquisa via Google, nota-se que os números mostram que determinados grupos estão sendo mais impactados nesse momento… Como dissemos no início, os membros das classe sociais mais altas foram mais impactados, em termos de casos de doença, hoje já vemos os mais idosos, com comorbidades e de classes mais baixas respondendo pelo maior número de casos e de mortes, porém “25% dos mortos têm menos de 60 anos e nenhuma comorbidade – como diabetes, hipertensão e problemas respiratórios. O número teria disparado nos últimos quinze dias. A relação entre renda e mortalidade seria justificada pela falta de recursos básicos, como água e saneamento, nas residências periféricas.” (Veja, 13/04/2020) Além da dimensão classe social renda, sob a perspectiva vertical, precisamos levar em conta que a maioria das classes baixas é composta de negros. Assim, já vemos duas dimensões – Renda e Raça – impactando a forma como a doença é vivenciada.

Além dos impactos na saúde, sabemos que essa crise está impactando de forma expressiva a economia, aumentando o desemprego que já era grande. Esse impacto também não se dá de forma linear, impactando de forma mais severa aqueles com baixo nível de formação educacional, membros das classes mais baixas, negros e mulheres. E em muitos casos, todas essas dimensões atuam em conjunto, deixando ainda mais vulneráveis grupos já tão sofridos.

Dito isso, podemos mesmo pensar que “Estamos todos no mesmo barco?” Que possamos refletir e transformar em ações o que entendermos ser o correto a fazer. Que saiamos transformados dessa crise!