A pergunta é bastante ampla e cabem nela diversas interpretações… Mas a ideia é realmente fazer pensar: de onde viemos? Como seres humanos? Da água, dos microrganismos, dos macacos… Seria da barriga da mamãe, onde somos algo que surge de uma nova combinação de 2 seres únicos, que geram um outro ser único. Da América Latina, do Brasil, do Rio de Janeiro, que trazem consigo seus regionalismos e tradições… Da Tijuca, de uma família de segunda geração de imigrantes, da classe média…. Tudo isso nos constitui, mas não nos determina!
Quando falamos sobre a Mandala das diversidades e apontamos nossa mira para a dimensão de ORIGENS, temos muitos alvos. As diversidades atravessam nossa identidade – o que nos remete ao conceito de interseccionalidade – e ao olhar para as nossas origens encontramos ainda mais elementos complementares ou definidores como cultura, nacionalidade – toda a geografia que nos constitui, bem como a família, suas tradições e ritos, a formação, experiências pessoais, culturais, profissionais, mas também todas as nossas escolhas.
Paremos aqui para fazer uma distinção que não deve passar desapercebida. Alguns autores nos fazem refletir, um deles Scott Page, que existem, pelo menos, 2 esferas quando da análise da diversidade: aquela mais identitária e inerente, que está dada, como sexo, raça/cor de pele, idade, e outra mais cognitiva e/ou adquirida, que é proveniente de nossas vivências e experiências e das escolhas que fazemos a partir dela. Claro que não estamos reduzindo a importância da representatividade e nem que as dimensões identitárias não nos fazem quem somos e que escolhemos a partir delas. Muito pelo contrário! Nossa intenção é reforçar que não devemos ser determinados por nenhuma delas, mas sim entender que elas nos influenciam e que essas influências, junto a nossas escolhas, nos fazem único/as e plurais. E que a soma de tudo isso enriquece nossa vida, as organizações e a sociedade.
Mas muito ainda temos que caminhar para aproveitarmos toda essa riqueza. Respeito à diversidade versus intolerâncias é um dos desafios contemporâneos dos Direitos Humanos e de nossa sociedade ainda nos dias de hoje.
Segundo Hannah Arendt, “todos somos únicos e diversos”. Ainda que esta mensagem esteja contida em diversos tratados e documentos, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos ou a Constituição Brasileira, parece que a sociedade ainda não vive em concordância com ela, uma vez que se percebe que existem pessoas em situação de vulnerabilidade porque sua diversidade não é tolerada. A dignidade humana é a base dos direitos humanos. E o respeito à pluralidade de perspectivas e perfis fala diretamente com este ponto. Por que será que ainda somos tão intolerantes?
Seguem algumas hipóteses:
- Tememos o diferente, o novo > se temos um padrão que consideramos seguro, fugimos do que nos parece ser o oposto.
- Estamos apegados em nossas “bolhas” e opiniões > acreditamos em nossas verdades e desacreditamos o que outras pessoas falam ou vivenciam.
Luis Felipe Pondé diria que “a humanidade parece ser um problema maior do que a própria humanidade consegue resolver”.
Trazendo outra referência, Anthony Appaia diz que “o indivíduo e suas escolhas são mais importantes do que uma cultura a se preservar”. A cultura funciona como um drive para os padrões de pensamento, sentimento e comportamento, mas propomos aqui duas visões distintas sobre esse conceito – a dos universalistas, segundo a qual existe um mínimo ético universal a ser preservado. E a visão dos relativistas, que sugere que cada cultura possui a sua visão sobre direitos. Nesse contexto, considerando que a cultura é um elemento formador e que os códigos culturais são reavaliados ao longo do tempo, como devemos lidar com a cultura? Quem determina quem?
Propomos alguns cases para nos ajudar nesta reflexão: Malala, PadMan (Netflix), Flor do deserto (Amazon Prime) – existem esses e outros exemplos de pessoas que escolheram enxergar além dos muros de suas próprias culturas e influenciaram movimentos de mudança cultural. Boaventura de Souza Santos defende o diálogo multi-cultural, partindo da diversidade e da incompletude de cada cultura com abertura às outras culturas. Seria esse um caminho rumo a tolerância?
No Brasil, a Constituição de 1988 foi um marco em referência à proteção aos Direitos Humanos. Interessante uma frase da professora Flavia Piovesan, da PUCRS, em que ela afirma que as constituições não expressam somente o que uma sociedade é, mas o que ela quer ser. A chamada “Constituição Cidadã” foi apresentada por Ulysses Guimarães como “o documento da liberdade, fraternidade, da democracia, da justiça social do Brasil”. O professor Herrera Flores já dizia que é sempre preciso avaliar o texto e o contexto. Então, vale pensarmos nesse momento que o Brasil vivia antes e o que vive depois de 1988 – especialmente porque estamos falando sobre a influência destas questões na cultura sobre a qual foram formados aproximadamente 60% da população brasileira hoje (considerando que dos atuais 212 milhões, 40% tem menos de 30 anos): recém saídos de um regime militar ditatorial, autoritarismo, violação de direitos, censura, um caminho lento rumo à democracia (com a qual ainda não sabemos lidar). Na sequência, vemos o racismo ser tratado como crime. A proteção à mulher contra violência doméstica, a criminalização também do preconceito contra LGBTQIa+. Mas ainda há muito preconceito e discriminação nas empresas, nas escolas, no nosso dia a dia, mesmo ele não sendo tolerado pela carta magna do país.
A partir do exposto acima, nossa reflexão vai na direção de entender como podemos viver e influenciar essa mudança cultural a caminho de uma sociedade mais inclusiva e tolerante. O que você acha: o que nos determina é de onde viemos ou onde queremos chegar?