Ao externar uma opinião ou ao fazer uma análise de situação, ainda que possa ser em bases objetivas e racionais, sempre corremos o risco de vermos apenas um lado da questão.
Somos potencialmente tendenciosos, sem perceber.
Seguimos passos, formas de pensar, que foram incorporadas a nós, na nossa trilha coletiva de convívio com pessoas, seja em casa, na escola, no condomínio, no trabalho, nas redes sociais, enfim….vivemos num emaranhado de conexões que nos influenciam e também indiretamente nos formam como indivíduos.
Incorporamos comportamentos, crenças, modos de vestir, modos de falar que não são verdadeiramente nossos, mas apropriados de grupos que nos rodeiam e repetimos, ou tendemos a seguir, sem que nos demos conta.
O curioso desta história é que tendemos a achar normal um jeito de ser, e aquilo que surge como destoante, rejeitamos ou mantemos uma certa reserva, pelo menos num primeiro momento.
Esta percepção não é nova. Heródoto, historiador grego que viveu de 484 a 424 antes de Cristo, já comentava:
“Se oferecêssemos aos homens a escolha de todos os costumes do mundo, aqueles que lhe parecem melhor, eles examinariam a totalidade, e acabariam preferindo os seus próprios costumes, tão convencidos estão de que estes são melhores do que os dos outros.”
É como se colocássemos uma venda nos nossos próprios olhos e não conseguíssemos tirar.
Engraçado que quando viajamos temos a curiosidade de conhecer novas culturas, entender como outros povos vivem. Mas no convívio pessoal ou no trabalho, o gosto desta descoberta pode involuntariamente se transformar em ponto de atrito e de desgaste.
Num grupo diverso, onde existe uma pluralidade de costumes, formas de pensar, ver o mundo, provenientes de vários fatores como a origem, a formação, a geração, o gênero ou a religião, para ficarmos somente no âmbito demográfico, temos uma série de pontos que podem potencialmente conflitar e dificultar o entrosamento.
Por outro lado, se existe diversidade de pensamentos, de formas de ver o mundo, seria um verdadeiro desperdício não se aproveitar todo este manancial e riqueza existentes nos grupos.
Mas como evitar cair nesta armadilha?
Um bom passo inicial talvez fosse estar alerta a esta tendência natural que temos. Vermos como reagimos, se realmente escutamos, por exemplo. Outro ponto de reflexão seria talvez observarmos como nos comportamos ou reagimos com relação a posicionamentos preconceituosos que são colocados nos grupos em que estamos. Será que me omito ou exponho meu pensamento? O simples fato de estarmos ligados na nossa própria postura pode despertar para um movimento de mudança individual.
Estamos falando da criação de hábitos mais inclusivos, que afaste os riscos de ficarmos sempre na mesmice de ser e pensar igual a todo mundo. Incluir é abrir-se ao mundo, olhar com olhos de viajante, curioso, desbravador, que degustar o novo. É desprender-se de suas próprias amarras e navegar por mares nunca antes navegados.
Incluir é simplesmente viver, e viver em plenitude e em abundância.